COVEIRO

Entre corpos velados,
de joelhos.
Entre lábios selados,
um desfecho,
como as covas que cavo.
A ferrugem do prego
que eu cravo.
Na madeira um estalo,
traz o medo.
Na demência, o segredo
de um fim trágico.
Na ausência, um lapso,
um desterro.

FÉ DO COVEIRO

Deixei de falar com Deus
por não ouvi-lo dizer:
- Estou te escutando, filho,
diga o que quer saber.
Sozinho eu tive que aprender
que o mundo sabe ensinar.
Chorei para poder crescer.
Sorrio para não mais chorar.

Deixei de implorar a Deus
por ele não atender,
não o que eu tinha a pedir,
mas para não ver sofrer.
Tanta inocência perdida;
tanto para se fazer;
quantas súplicas de perdão;
quanta oração dividida;
o agravo da omissão;
a revogação em vida.

Deixei de acreditar em Deus
por uma dedução lógica:
Não há como evitar o adeus.
Depois do adeus não há porta.
Sem entrada, sem saída,
resta a fé do carvoeiro
numa terra prometida
sob um denso nevoeiro.

João Felinto Neto

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