PRÓXIMA ESTAÇÃO: CONGRESSOAbolição
Diz o letreiro do ônibus
E eu sinto cheiro de pólvora
Logo o veículo se afasta do Méier
Entra por ruas que desconheço
Por toda parte nenhuma arte
Na fumaça do asfalto sinais de pobreza
O endereço da rua que já não me lembro
O homem sorri e garante que fica perto do Centro
Tem que saltar no próximo ponto
Salto num lugar que me recorda a antiga estação de Olaria
Disputando cada pedaço da calçada
Ambulantes se escondem do sol sob as barracas
Petrarca
Será aqui Abolição?
Novos escravos brancos e negros sob invisíveis chicotes alardeiam mercadorias
Vapor poeira barulho trem zoeira gente olhar sofrente gastas roupas baratas
Numa TV improvisada num botequim à direita de São Jorge
O Senador Senil jura inocência
Mas não há quebra-galho de Arruda que arrede seu mau olhar
Nem alhos nem bugalhos de palavra sua que convençam
Com licença esse endereço por favor onde fica?
Se em vez de estar preso no balcão deste lado
Estivesse como aqueles homens livres e gentis
Sentados na bancada do Senado
Custasse qual fosse a ingrata luta
Toda tristeza que hoje vejo aboliria.Ricardo Alfaya