Moenda de açúcar, de Johann Moritz Rugendas (Alemanha, 1802 – 1858)
 
INCIDENTE

Foram três pauladas na cabeça
e voaram os miolos
e o sangue
e alguma coisa feia parecida com um olho
grudou-se em alguma coisa feia parecida com uma língua
de animal.

Era um negro. Agora não tem cor: é um animal
morto, feio, sujo. Dá nojo.

Às três horas da tarde cinza e úmida
é uma ferida
com seu pus
e o podre
e fede e as fezes
desse animal abatido com ódio animal
são flores dolorosas
mel
que moscas sugam e as narinas
murchas! dos homens de palha
de plástico, de nada que valha
um caco, um coco, um cisco.

Ah circo das ilusões perdidas
eu te vomito, oh urbe.
 

 

A SULAMITA

A tua beleza
negra
queimada pelo sol.
O teu corpo roliço
negro
brilhando ao sol.
A mulher do Éden era bela
negra
dançando ao sol.
As pequenas tranças do teu cabelo
negro
compõem a música do sol.
O ritmo dos teus pés
negros
são um hino ao sol.
A volúpia dos teus seios
negros
são um convite ao sol.
Nós nos deitamos no leito do sol
negro
e nos amamos com os nossos corpos
negros.

                                                            José Carlos Mendes Brandão

  Do livro "Poemas de Amor", Joarte Editora, Bauru, 1999, SP

« Voltar