INCIDENTEForam três pauladas na cabeça
e voaram os miolos
e o sangue
e alguma coisa feia parecida com um olho
grudou-se em alguma coisa feia parecida com uma língua
de animal.Era um negro. Agora não tem cor: é um animal
morto, feio, sujo. Dá nojo.Às três horas da tarde cinza e úmida
é uma ferida
com seu pus
e o podre
e fede e as fezes
desse animal abatido com ódio animal
são flores dolorosas
mel
que moscas sugam e as narinas
murchas! dos homens de palha
de plástico, de nada que valha
um caco, um coco, um cisco.Ah circo das ilusões perdidas
eu te vomito, oh urbe.
José Carlos Mendes BrandãoA SULAMITA
A tua beleza
negra
queimada pelo sol.
O teu corpo roliço
negro
brilhando ao sol.
A mulher do Éden era bela
negra
dançando ao sol.
As pequenas tranças do teu cabelo
negro
compõem a música do sol.
O ritmo dos teus pés
negros
são um hino ao sol.
A volúpia dos teus seios
negros
são um convite ao sol.
Nós nos deitamos no leito do sol
negro
e nos amamos com os nossos corpos
negros.Do livro "Poemas de Amor", Joarte Editora, Bauru, 1999, SP