A PRETA TINTA
Edu Planchez
A preta tinta da caneta achada por mim, escreve:
se para essa existência tivesse eu nascido mulher,
gostaria meu pai que me chamasse Magda Stella
E no dia de hoje conhecí a psiquiatra italiana Magda
e relatei a ela tal fato, a moça sorriu e ficou repitindo
“Magda Stella”, Magda Stella...
Nunca me imaginei em Roma,
me imagino cortando com ela ( a italiana)
maçãs e pães no Reino Unido
Algo diz que somos muito íntimos,
e essa intimidade vem de além mar,
de muito antes das coisas escritas
Dizem que os escorpiões penetram o impenetrável
e de lá retiram as noites, os dias...
e as fontes luminosas que rascunham nos lóbulos das sementes
o formato dos vindouros vegetais
Essa capacidade de enxergar as coisas por dentro,
herdei de meus mestres florais
O cinema de meus mestres se revira
continuamente no estômago dos neurônios
O cinema dessas mulheres maiores borbulha espalhando vapores de inteligência e delicadeza
CONSTRUTORES DE CABEÇAS
A natureza se vinga,
gesta o vento de cem mil pés,
arrasta duas mil cidades por segundo
A onda gigante come as pernas e os braços dos continentes
E aquele que apodrece o céu, o mar e a terra
clama inocência
Caixões feitos de dinheiro
cobrem os vastos campos
Minhas lágrimas não irão secar
junto com as nascentes
Tempo de desespero de planetas e homens,
o tiro saiu pela culatra,
nada tem detido a avalanche,
nem deuses, nem internautas
Sou poeta, homem de fé inquebrável,
cavalheiro de infinita esperança
Como Bob Dylan e outros construtores de cabeças
ergo taças de sangue
atirando dardos de coragem
aos que estão perdendo a batalha
O poeta príncipe de metal
acorrenta os cães
dos dentes de estricnina a sua cintura,
arranca do pâncreas das águas o tumor
Ele, o Rei de marfim, sustenta congressos de sóis
nos corredores do intenso
e espalha especiarias orgânicas
dizendo aos seus irmãos que façam o mesmo
Orquídeas imensuráveis precipitam-se
dos furos das pedras e das cavidades vermelhas
alargando pétalas sobre os corpos
das estrelas que esqueceram que são estrelas