POETA

Paulo Tarso Barros

Não queiras aceitar
a palavra “poeta”
em ti,
nos olhos,
nos órgãos,
nos teus bolsos vazios,
na sujeira das unhas,
nos espíritos
desta encarnação.

Ouça:
tua vida é esse poema
— sujo das unhas,
sujo das revoltas,
exaltado,
permanente,
público ou restrito,
mesmo que reprimas
a palavra em si.

 

MULTIPLICAÇÃO

Transfiguro-me em metáforas,
cacos, amores incertos e artérias.
Vivente, crescendo em versos
e sendo um poema recalcitrante;
alargando-me em mares,
galgando anos-luz como um cometa,
disseminando-me em vegetais e minerais
e sendo apenas um homem:
finito e triste.

Revelo-me em dois, em mil
mas sou apenas um,
simplesmente mais um.

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