O  POETA

                     Mauro Salles

                                                   Para Zu

Deixa quieto o poema
em seu canto de cismas
Poupa explicações jamais possíveis
no momento de angústia incompreendida
Dá-lhe o silêncio necessário
à solidão procurada
Fecha a porta do quarto que o separa
do mundo

Assim
vale a pena fingir que é mesmo grande
o parco sofrimento
e que são de infinitos desenganos
as pedras do caminho

Respeita no poeta
o momento isolado
e as dores que ele abriga

Talvez feitas de amor, como nos sonhos
talvez feita de sangue, nos seus versos

 

VERSO

                      Para o Massao Ohno

Cantar de novo o amor
não temer palavras
sentimento
saudade
carinho
ternura
lembrança

        Falar de abraços
        queixumes
        afagos
        soluços
        pele
        corpo
        vida

Trazer de volta o esquecido
coração
seus ritmos
histórias de noivado
sofrimento
desenganos
alegrias dos amantes sem nome
        na noite furtiva
        do ontem
        do hoje
        de sempre

Depois perdoar os poetas
algébricos
telemáticos
engenheiros da palavra
de emoção escondida
sem sonhos
canto
riso
lágrima

Do livro: O Gesto, Massao Ohno Editor, 1993, SP
« Voltar