Mãe-de-CriaçãoEra já velha a mísera pretinha;
Melo Morais Filho
Tão extremosa como as mães que o são:
Era escrava... porém que amor que tinha
Aquele a quem foi mãe-de-criação!
Cuidava tanto dele... Quando o via
Dos estudos chegar, chegar-se a ela,
Parece que a ventura se embebia,
Como um raio de luz, nos seios dela.
Seu filho lhe morrera em tenra infância...
A sorte do cativo é a dos reveses;
Ela o criara, e d'alma n'abundância
O consagrara filho duas vezes.
Quiseram libertá-la; a liberdade
Tomou como uma ofensa e não cedeu;
Depois... "Minha senhora, é caridade
Não me apartar do filho que me deu."
Cismava alegre tanta cisma vaga,
Pedia a Deus por ele tanto, tanto,
Que só de crê-lo ausente era aziaga
A hora que o furtava ao seu encanto...
Mas os tempos passaram: tudo acaba;
Nem no sonho feliz o foi sequer!
Há filhos-reptéis que cospem baba
Letal veneno a um seio de mulher.
Ele o fizera. Aquela que os vagidos
De seu berço acudiu, ó mães bondosas,
Que velara, acalmando os seus gemidos
De criança, nas noites dolorosas.
Levou-lhe ao rosto a mão de matricida!...
A pobre velha lá mordera o chão:
— "Com meu sangue de escrava dei-lhe a vida...
A seus pés, meu senhor... perdão! perdão!