PRIMAVERA SEMPRE
Ode à minha mãe - viva,
na época.
Alma.
Alma, só alma,
em cada dia palmilhado,
passo a passo
mesmo que nas mãos
não houvesse nada.
Mesmo que o tudo,
fosse quase nada,
que, em suas mãos,
que só tinham alma,
era transformado
o nada – em quase tudo!

Calma!?
Não muita calma,
a não dizer,
nenhuma calma.

Mas pode alguém,
só,
na multidão,
vazia cada mão,
transformar o vazio
em saber, em carne e pão,
mantendo a calma
de quem nem sabe
o preço de um pão?

E, que importância tem
a calma!?
Mais ressonância
teve a alma,
deixando
que a infância
de suas crianças,
desse risada,
do tudo que era
quase nada
e vivesse o nada
como sendo o tudo,
pois que o nada
era mesmo tudo,
pois que o tudo
era mesmo alma,
pois que o amor
não é sempre calma,
pois que o amor
é filho da labor,
pois que o amor,
não elabora o pão
sem temperar no suor!

E no suor
é que está o sal
que tempera
a vida!

E sem suor,
a vida é diluída,
pois lhe tempera
o pão,
a destruição. O lodaçal.

E do labor,
do amor,
do suor
que não tinha
calma,
e era todo,
inteiro
alma,
chegou,
um dia,
a calma.

A calma
do dever cumprido,
a calma de uma vida longa,
de um viver vivido
com muita alma,
que hoje, enfim,
antes que lhe chegue o fim,
adorna esta árvore,
frondosa de amor,
singela, por amor,
mas desejosa
de ver,
varrida de seus ramos,
de seu próprio tronco,
a roupagem
velha e andrajosa,
de quem não tinha
nas mãos
mais que um'alma corajosa
a contar moedinhas
para comprar, aos
filhos,
o pão.

Hoje,
a vida lhe recompensa
por tanto amor,
por tanta coragem!

Floresce, ainda,
esta Sempre-Viva,
numa roupagem
linda,
escolhida
com a mesma alma
de quem soube caminhar
passo a passo,
de quem soube cozinhar,
sem cansaço,
o pão de trigo
feito em pedaço,
pra que coubesse
a cada um de seus filhos –
uma porção
de seu próprio
coração!

Floresce a alma
de quem sabe mostrar
que há árvores
capazes de desabrochar
em Primavera –
estando, embora,
em pleno Outono.

Tetevar

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