Soneto dos Ex-namorados

Há certa melancolia dispersa ao ar,
Vinda de imenso e imundo jardim,
Há flores e folhas secas em mar,
A espalha-se ao mundo sem fim...

Restou o cravo perdido na lapela,
Uma bela orquídea sem perfume,
A promessa esquecida na capela,
Uma pequena estrela sem lume.

Não há mais o borbulhar de risos,
Nem o perscrutar de mãos abertas,
Nem as alegrias festivas dos guizos.

Há ao canto verdades encobertas,
Pontos perdidos, silêncios e juízos,
Pelas frestas de portas entreabertas.

Aquarela

Aquela que amas com esperança,
A imagem, sentimento e semelhança,
Do teu sonho da namorada ideal,
Digo-te: não sou essa tal!

Não sou eu quem povoa teu sonho,
Corre nos campos do teu desejo,
Faz teu dia mais risonho,
E gostoso quanto um beijo.

Não sou quem diariamente,
Inspira-te fantasias secretas,
E carinhoso tu decretas,
Ser a tua flor e semente...

Não corro em vai e vem,
Do teu coração até a pele,
Quem te ama e te repele,
Mas é teu amor e teu bem.

Sou a miragem da mulher,
No oásis em que clamas,
Porque insistes me colher
Como a flor que tu amas?


                   Betha M. Costa