Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba

Quero contar esta história
Pra refrescar a memória
Daqueles que em má hora
Cismaram de ir embora
Em dias de ventos éolos
Em momentos de penúria
Cheios de aflição
Levando entre os teréns
A inocência perdida
E escassos contados vinténs
Arrancados pelos juízes
De terras que eram suas
Em terras que eram nuas
Até serem amanhadas
Pelos braços
Pelos ferros
Perdidas pelos erros
Engolidas pelos perros
Porque o tempo mudou
E na praia
E no mar
E na terra
E na vida
A entrada é proibida
Para pessoas estranhas
Que confiam na justiça
(Pra inglês ver: justice)
independente de etnia
Independente de classe.

Rosa Negra

Morava de frente para o mar
Na Praia da Fortaleza
Dona de muita beleza
E seu pai tinha a certeza
Que se casaria com a riqueza
Mas, ai, a principal riqueza já tinham
Na terra sob os pés
E os pés pelas mãos
Trocaram os pobrezinhos
Venderam o principal
Por uma ninharia
E os saberes dos ofícios
Da roça e da pesca
Ficaram sem serventia
E o tempo passou
E o dinheiro acabou
E o desespero chegou
E por uns poucos tostões
A Rosa se deixou colher, sua vida esmaeceu
E, então, a Rosa (ou foi o mundo?) enlouqueceu.

                                                    Domingos dos Santos

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