Saldo

Belo, sereno e triste
Teu rosto me mantém no seu fascínio.

No remanso dos teus olhos,
Sobrevivo às corredeiras...

Mesmo que sentimentos acumulem peso,
O fio da paixão permanece teso.

Na esperança de tempos idos, mas não findos,
O prazo do amor nunca expira...

À sanha da continuidade diuturna,
Parecemos cílios esperneando.

                                                            (para Rose)

 

Ano-novo 

Triste, começar um novo tempo
Sabendo que nada de novo
Esse novo tempo trará 

Novas edições das mesmas fanfarras
Falsas inflexões das linhas vetustas
Aquelas mesmas que só nos enforcam 

E enforcados ficamos,
Lado a lado, balançando ao vento nauseabundo
Que vem dos miasmas do ano vazado 

Feliz ano-novo, feliz ano-novo, parecem dizer
As línguas-de-sogras desatadas
De nossas bocas mal traçadas
Num sotaque arenoso de puro despeito 

Mensagem de rancor a nós mesmos,
Bonecos cobertos de papéis vencidos
Despejados nas ruas do Centro.

                                        Galdino Moreira Neto

« Voltar