Aprisionada

Como os ciclos da lua
A semente na terra
Os planetas no ceu
O teu visgo me pega
Captura, enfeitiça
Como a planta no orvalho
Como o gato no sol
Como a lua na rua
Tua cola me prende
Me seduz, entontece
Como o cio, a colheita,
A doença, a maleita
como a praga malsã
teu concreto me gruda
me empareda me prende
me atordoa desnuda
me embriaga e conduz
como a vã mariposa
se espatifa na luz
Como a noite calada
Como fera enjaulada
Me penetra, seduz
Como a tarde serena
Como a lente pequena
Me distorce, reduz
Como karma bendito
Ou destino maldito
Condenada sem pena
Ré confessa, eu helena,
Te proponho uma trégua
Um compasso, uma régua,
Um tenaz sentimento
Mas a força do tempo
Do teu cio, teu vento
Me contesta voraz
E não sou mais capaz
De dizer – um momento.
Quero agora, descreio
Estou partida no meio
E só vejo você
Meu amor, meu tormento

                               Maria Helena Bandeira