Êxtase

Voz suave... entanto põe fogo às entranhas.
A língua a esgueirar-se em tom coloquial,
entre curvas e adágios de ousadas façanhas.
Mar sequioso, rio a correr em caudal.

O jeito de lebre sob trêmula veste
os espaços permeia em fôlego aflito.
Lânguida a noite pronta e fugaz se despe,
sobre o lesto desejo a conduzir o rito.

Inexorável laço no voraz caminho !
Desliza entre mamilos, brancas presas descem.
Varrem beijos de sal no campo em desalinho.

Ao sôfrego cálice que recebe o vinho
brindam os corpos e dançam e desfalecem.
Cântaros deitam sombras às dobras do linho.

Esferas

Lábios na curva do arrepio
despertam contornos na pele
Tangentes espargem
veludos e sedas

Não sabe a fonte
do rio que a deságua
Nem a têmpora pulsante
o momento em que renasce
fluxo, grito
caudaloso vértice

Dobram-se, desdobram-se
ânsias, angústias
raio-geratriz
em busca do centro
espasmos de sol
ondas vazantes...

Abóbadas famintas de infinito

                                                  Léa Madureira

Ambos do livro: "Por não haver navegado", UAPÊ, 2002, RJ