Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), com um verso do poema "Mas viveremos", autor Leo Santana

Recado ao Jovem Poeta

I

Talvez, quando minha nau
estiver a declinar (no horizonte)
eu sinta a necessidade
de imortalizar meu nome.
Mas, por enquanto, meu jovem poeta
que não guardo o nome
não posso esconder essa ânsia
rio caudaloso que se esvai de mim
como chama ardente (queima minhas entranhas)
e usa meu corpo apaixonadamente.
Sem esperar meu gozo
sai repentinamente em busca das luzes
que lhe são devidas no picadeiro da vida.
Palco circundado por árvores inertes
(na indiferença do dia a dia).

II

Seus questionamentos foram meus questionamentos.
Sua resistência cai como rochedo frio
sob o milenar assédio do mar bravio
a dançar a sensual e devoradora
valsa das ondas, engolindo num abraço fatal
a agonizante terra a se entregar servil.
No seu brilho de condor alça vôo
deusa sublime!

III

Essa luz que abrigo
nessa tapera de sapé batido
coberta com frágeis palhas de coqueiro...
Teimo a pensar ser só minha.
Há tempo apercebo-me
ser apenas fiel guardador
da efêmera chama divina
que se desmancha na mais fina dama
logo após o despertar da inocente donzela
a seduzir com seu cheiro quente
pupilos que se quedam em êxtase
ao receber seus buquês de estrelas.

IV

Senhora Poesia no seu corcel alado
faz trotar diáfanos e afiados cascos
sob colchas fofas acetinadas
onde desajeitados vaga-lumes bailam.
Feito relâmpago cobra meu pensar
e usa seu corpo, meu jovem poeta
para seguir o rastro da humanidade.
Com pequenos diamantes semeia palavras
no ventre da terra por onde passa
imortalizando seu ofício
ao apoderar-se com seu feitiço
da su'alma deslumbrada!

                                    Jânia Souza

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