Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), com um verso do poema "Mas viveremos", autor Leo Santana

O POETA E AS PALAVRAS

O poeta esclarece o ponto
do primeiro verso: acalma
o sentido da frase
ressentido da liberdade da rima.

O poeta não diz mais nada:
olha o mundo que o cerca
a explodir o segundo verso
em única frase.

Poetas não falam do tempo:
escrevem versos como quem rasga
o corpo em técnico êxtase
na palavra errada.

Poetas são poetas: entre outras coisas.

 

Estátua de Florbela Espanca no Parque dos Poetas,
                          em Oeiras, Portugal


FRÁGEIS POEMAS

O poeta acompanha os saltimbancos
nas piruetas das próprias palavras;
desconjuntadas frases geram reclamações
de doces mães sentidas:  jogos
inacabados no primeiro tempo.

Os termos do poeta estão em toda parte
nos tecidos esgarçados
nas comidas destemperadas
esguias sombras sob os laranjais.

As rimas do poeta são varas flexíveis
bambu e  marmelo vergam o ar
e fazem doer páginas não escritas
vezes rígidas demais.

O verso do poeta termina onde a vontade
alcança o realismo do grafite e risca o papel;
vontade, preguiça necessária
para não assustar frágeis poemas.

                                                                             Pedro Du Bois

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