Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), com um verso do poema "Mas viveremos", autor Leo Santana

o poeta

É sina de poeta,
costume de época
ou mal de quem sente o mundo
no fundo e profundo âmago
de ser do meio um frágil asceta?

Aquele que observa
nas selvas de pedra
mil faces encobertas

De dores e amores
que de fato os introjeta
e os expõem na frase singela

Na qual o homem vê aberta
Sua caixa preta e secreta
E tenta fingir não a conhecer

E tenta rir por perceber
Quantos vãos há em seu ser
E seu intelecto nem pôde esconder

Aquele que não vê sentido no capital
Não vê juízo no cabedal
E lhe custa tanto comer um animal

Aquele que se doa às letras
Desapega-se do íntimo anseio
Tentando inventar estrelas
Que brilhem de humanidade no seio

É todo aberto e vulnerável
Às dores e às feridas
Que o Real tem de implacável
Ao fechar as saídas
Para o delicado corpo irrecuperável

Que doença é essa
Que afeta tantos poetas?!
que lhes deixa sem esperas
De todas aquelas promessas
Que só muitos anos podem dar festas?

                                                    Tania Montandon

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