RÊVE POUR L'HIVER SONHO PARA O INVERNO (*)

 

L'hiver, nous irons dans un petit wagon rose
Avec des coussins bleus.
Nous serons bien. Un nid de baisers fous repose
Dans chaque coin moelleux.

Tu fermeras l'oeil, pour ne point voir, par la glace,
Grimacer les ombres des soirs,
Ces monstruosités hargneuses, populace
De démons noirs et de loups noirs.

Puis tu te sentiras la joue égratignée...
Un petit baiser, comme une folle araignée,
Te courra par le cou...

Et tu me diras: "Cherche!" en inclinant la tête,
Et nous prendrons du temps à trouver cette bête
Qui voyage beaucoup...

O inverno, iremos num pequeno vagão rosa
Com almofadas azuis.
Estaremos bem. Um ninho de beijos loucos repousará
Em cada canto suave.

Você vai fechar os olhos paranão ver, através do vidro,
As sombras das tardes tediosas,
Esses monstros rosnando, uma população
De demônios negros e de lobos negros.

Então você sentirá o seu rosto arranhado...
Um beijinho, como uma aranha louca
Correrá por teu pescoço...

E você me dirá: "Veja!", inclinando a cabeça,
E teremos tempo para encontrar este animal
Que viaja muito...

                Rimbaud
 (Tradução de Leila Míccolis)

(*) N.E.: Primeiro soneto de Rimbaud durante seu voo para a Bélgica. Raro na forma, alterna versos alexandrinos com redondilhas maiores.