NO HORTO
Meu coração espera as oliveiras
e os pães e os peixes do milagre.Vejo-me em noite de tempestade
meditando no horto e bebendo
a água que cai no meu rosto.Estranhamente salgada
essa chuva, essa água
como de mar ou lágrima.E me calo e medito no horto,
e os pães e os peixes estão longe
na face abstrusa do milagre.E sob a tempestade
meu coração espera no horto
as não nascidas oliveiras.Anderson Braga Horta
Do livro: Incomunicação (1977), in Fragmenos da Paixão - poemas reunidos, Massao Ohno, 2000, SP