PRIMAVERA

                                  A chuva principia
apagando de agosto a pegada sombria.

E, depois, este cheiro, esta terra molhada,
esta frescura amena, esta beleza em cada
nova folha de arbusto! Em cada nova rama
um diamante de orvalho esplende e luz derrama.
Em tudo um ar festivo, um ar alegre e bom.
Em tudo a vida canta, a vida é como um som.

Um vento suave brinca entre as risonhas moitas.
E borboletas vão, inconstantes e afoitas,
passeando e, pelo ar, fazendo, em rodopios
desenhos magistrais de imaginários fios.
Parece haver um gênio alado enfeitiçando
a terra que sorri e o ar que está cantando.
Em tudo um ar festivo, um ar alegre e bom.
Em tudo a vida canta, a vida é como um som.

Chovem farpas de sol nesta manhã tão clara,
de eflúvios e rumor, como uma chuva rara,
que fizesse cair aljôfares dourados,
cobrindo todos de ouro os tapizes dos prados
e as lágrimas que estão nos cálices das flores...
E os pássaros no azul, em quérulos rumores,
são alegres clarins a despertar a aurora
e a despertar em mim os meus sonhos de outrora,
e a esperança, e a ilusão, e esta ânsia de ventura
que n'alma feneceu, como a flor, de secura.

Primavera risonha! Em tudo a primavera
encostou o condão da alegria sincera.
Até dentro de mim sinto um jardim suspenso!
Minh'alma é um céu azul, um céu azul e imenso,
estrelado de amor, constelado de sonhos
e aberto para o ideal que persigo, risonho.

Em minh'alma, num ar festivo, alegre e bom,
a vida canta e vibra, — a vida é como um som.

                            Gilberto Mendonça Teles

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