Soneto para Sandra

Porque és assim tão bela, só me resta
achar que os deuses me amam; e urdir-me
eu-mesmo, como nunca, sem mentir-me,
amplo, repleto, pleno, claro, nesta

lua que em mim acordas para esta
gesta que tange a alma e me faz ir-me
de mim a mim, em mim, para sentir-me
como tu me modulas nesta festa

que retumba na aorta iluminada.
Porque és assim, uns ventos doidos tramam
meus caminhos, que esplendem na orvalhada

da vida nova, de onde os sonhos chamam,
e eu beijo a tua boca ensolarada
e só me resta achar que os deuses me amam.

                                                  Ruy Espinheira Filho

Do livro: Livro de Sonetos, Capitania dos Peixes, 2000, Porto Seguro/BA