PAI NEO

           pra Pedro Santos

Meu pai é um cara bacana
Ele sai todo dia cedinho
Quando chega já estou dormindo
Mas sei que no outro dia é claro
Ele vai me abraçar se puder
Ou toma um café doce e depressa
Com gosto de laranja azeda
Às vezes me toca o cabelo
Ou fala que preciso melhorar
Ou sorri palitando no canto da boca
Ou pega a me perguntar da vida
Ou me olha surpreso e intrigado
Como se eu fosse um bicho sem pé
Nem cabeça que penso no que
Ele está pensando e falo
Que preciso de um novo caderno
Ele faz uma careta e arrota
Bota o dinheiro em cima da mesa
E enquanto corro para o quintal
Ele sai parecendo meu pai

                                 Geraldo Maia

Do livro: O chão do meu destino, Bureau, Salvador, BA, 2000

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