A Hstória e a Morte do Mito [1]

(*) Anderson Zalewski Vargas

É difícil responder à indagação a respeito do que é ser um historiador hoje sem antes saber o que é, nos dias que correm, esta disciplina, a história. Ela pretende oferecer um "saber verdadeiro" sobre o passado ou mesmo sobre o presente? Nesse sentido, creio que é necessário decidir o destino a ser dado à ancestral antítese lógos-mito depois das reflexões de autores, classificados como pós-estruturalistas [2], que colocaram em questão e concluíram pela "morte do mito" como um gênero específico de saber, produção cultural e pensamento.

"A invenção da mitologia", de Marcel Detienne, publicado em 1982 [3], foi o marco inicial de um "intenso debate" [4] desenvolvido ao longo das duas décadas seguintes, gerado pela sua "tese cortante" [5] de que o mito e a mitologia são duas invenções arbitrárias e inadequadas para o estudo de toda e qualquer tradição. Todavia, no âmbito da história em geral, e da história brasileira em particular, esse debate parece ter passado desapercebido. Por essa razão, o que deveria ser apenas um artigo instigado pela leitura de uma das obras "pós-estruturalistas" [6] tornou-se o resultado preliminar de um projeto de pesquisa que pretende analisar e sistematizar o conteúdo da "crítica radical" ao mito, de autores como M. Detienne e Claude Calame, avaliar o debate suscitado por ela e, principalmente, verificar as implicações dessa polêmica para a concepção de "história verdadeira" [7].

O projeto de uma "história verdadeira", assegura François Hartog, assumiu diversas formas, desde Tucídides [8], seu criador, até versões contemporâneas como a "história científica" e a "nova"[9]. Todas elas, porém, sugerem ou afirmam que há, em contraposição à sua forma correta de produzir e escrever o conhecimento, uma ou diversas maneiras erradas [10]. Na obra tucidideana, e em muitas outras, modernas e contemporâneas, o mito desempenha um papel fundamental nessa operação.

Mito, originalmente, significa "discurso", "conjunto de palavras que têm um sentido, um propósito" [11]; pertence à ordem do legein e não contrasta com lógos , "termo de valores semânticos vizinhos que se referem às diversas formas do que é dito" [12]. Para assumir o sentido de "mentira", "fábula", "discurso equivocado e ilusório", em contraposição ao lógos qualificado como verdadeiro, lógico, racional, foi preciso um trabalho de re-significação por parte de saberes como a História [13], que elaboraram sua legitimidade denunciando a tradição [14]. Ao final, mito não se tornou propriamente um conceito, mas a noção que permitiu, e permite, à "história verdadeira" se afirmar como tal. Este é um dos aspectos importantes da crítica radical ao mito, pois coloca em dúvida o poder analítico da antítese lógos-mito e pode abrir novas perspectivas para compreensão do que são, hoje, a história e o historiador.

"História Verdadeira", mito e "política de segregação"

Como toda classificação, a de "pós-estruturalistas" conferida aos críticos radicais da noção de mito tem suas limitações. Jean-Pierre Vernant, cujos estudos do mito apresentam um conhecido caráter estruturalista [15], também colocou em julgamento essa estranha noção grega, unificadora de uma "penca de fábulas" diferenciadas entre si [16] - pois é mito a estória do rapto de Harmonia por Cadmo, a "lenda" da descoberta do vinho por Baco, o relato do surgimento do cosmo na Teogonia de Hesíodo.... No mesmo trabalho, Vernant indagou ainda em que medida o mito constituía realmente um modo específico de expressão caracterizado por "língua, pensamento e lógica particulares" [17]. O seu ponto de partida era a compreensão incômoda de que conforme a tradicional noção moderna, herdada dos gregos, o mito se define pelo que não é , numa dupla oposição ao real (mito é ficção), por um lado, e ao racional por outro (mito é absurdo) [18]. É verdade que, naquele texto específico, Vernant não chegou à conclusão de que a categoria "mito" devia ser abandonada. Examinando a passagem da tradição oral para a escrita, Vernant mostrou o "longo trabalho" e a "série de condições" que foram necessárias para transformar mito e lógos nos componentes antinômicos da conhecida equação semântica [19]. Apenas a partir do trabalho de Tucídides, no campo da história, e de Platão e de Aristóteles, no âmbito da filosofia, mito acabou assumindo os sentidos pejorativos que conhecemos. Apesar disso, ressalta Calame, o mito nunca teve, entre os gregos, uma definição estrita [20]. Nunca foi definido porque frequentemente compôs uma estratégia argumentativa como a de Tucídides, que Detienne classificou como sendo uma "política de segregação" [21].

Há duas referências ao "mítico" na Guerra dos Peloponésios e Atenienses. Primeiro, é dito ser "mítico" o caráter adquirido pela "maioria" dos fatos celebrados por poetas e compostos por logógrafos: graças à "ação do tempo", eles tinham adquirido essa qualidade que os fazia "inconfiáveis" (apístos) [22]. Debruçando-se sobre o passado mais longínquo - no qual estavam a Guerra de Tróia, a fundação de Atenas, e outros fatos fora do alcance da vista de qualquer testemunha confiável - os poetas ainda enfeitavam sua fala com "adornos engrandecedores", e os logógrafos preferiam compor seus texto privilegiando antes o "agrado do auditório" do que o "mais verdadeiro" (alethésteron) [23]. O leitor, recomendava em outras palavras Tucídides, deveria confiar no que acabara de ler, não devendo dar crédito aos rivais do historiador na tarefa de fixação dos fatos memoráveis [24]. Posteriormente, ao final da seção modernamente denominada de Metodologia (I 20-22) , na qual apresenta seu método de pesquisa e de escrita dos resultados, Tucídides escreveu: "E para o auditório o caráter não fabuloso [não mítico] dos fatos narrados parecerá talvez menos atraente; mas se todos quantos querem examinar o que há de claro nos acontecimentos passados e nos que um dia, dado o seu caráter humano, virão a ser semelhantes ou análogos, virem sua utilidade, será o bastante" [25].

De acordo com o historiador ateniense, o que é exatamente "mito"? ou o que pode ser classificado como "mítico"? Não há como ter certeza. Podemos supor que é um fato com elementos tais que faz dele "inconfiável". Como Tucídides criticava poetas e logógrafos, certamente eram da esfera do mito "a maioria" (tà pollà) – não todos – dos fatos relatados por ambos. Mas quais? Muitos comentadores preencheram o silêncio tucidideano com "embelezamento inventivo" [26], ou "romance histórico" [27], ou "história fantástica, extravagante" [28], ou "história não romântica" [29], entendimentos diversos para uma única palavra: mythõdes. Qual o critério usado por Tucídides para classificar um fato como "extravagante"? Deve ter sido a sua avaliação pessoal do que era e do que não era possível acontecer [30]. Tucídides não cria no labirinto do Minotauro, mas em sua História o rei Minos, o qual conhecia por tradição oral (akoé), foi o primeiro a constituir um poder marítimo capaz de impor certa ordem no Egeu (I 4). Também não duvida da historicidade de Teseu e dos primeiros reis de Atenas (II 15. 1-6), da própria Guerra de Tróia (I 9-11) e de outras estórias tradicionais. Ele apenas depura esses fatos preservados por poetas, logógrafos e pela memória dos gregos comuns, dos elementos que julgava improváveis – a interferências de deuses na guerra contra os troianos, por exemplo.

Nas duas passagens, mito não recebe uma definição estrita e "clara". Na primeira, é apenas aquilo que é inconfiável, potencialmente falso, devido à ação de um largo período de tempo que permitiria à ingenuidade popular, e à arte de poetas e logógrafos, adornar os fatos de um maravilhoso atraente, mas falso. Se tais fatos são incríveis, a convicção tucidideana resultante do exame dos indícios selecionados é verossímil, porque produzida conforme critérios de busca do mais verdadeiro. Se isto não é possível para acontecimentos muito distantes no tempo, pelo menos algo aproximado é alcançado pelo historiador. Na segunda passagem, outra qualidade do mito é apresentada: seu caráter prazeroso e sedutor. Por um lado, não são dignos de fé, por outro, são atraentes ao ouvinte e ao leitor. Tão atraentes e prazerosos que alguns deles compuseram o conjunto de estórias que foi o principal elemento constituinte da identidade helênica: "É na poesia, pela poesia, que se exprimem e se fixam, revestindo uma forma verbal fácil de memorizar, os traços fundamentais que, para além, dos particularismos de cada cidade, fundam, para o conjunto da Hélade, uma cultura comum" [31]. A desclassificação do "mítico", e a "segregação" das obras de poetas e logógrafos, é consequência de uma postura de incredulidade para com a tradição, pelo menos para com a tradição tal como se apresentava aos olhos de Tucídides.

Uma tarefa interessante é acompanhar a história desse tipo de "estratégia argumentativa" da "história verdadeira": o recurso à uma imprecisa e negativa idéia de mito para definir-se, legitimar-se, excluindo e segregando rivais. Pois esse recurso de Tucídides foi preservado dentro da tradição ocidental, sendo usado ainda hoje. E. Hobsbawm, por exemplo, em conferência sobre as funções do historiador em tempos de fundamentalismos e nacionalismos, distinguiu de um lado a sua história, verdadeira, e, de outro, a "ideológica", baseada em "mito e invenção": "Mito e invenção são essenciais à política de identidade pela qual grupos de pessoas, ao se definirem hoje por etnia, religião ou fronteiras nacionais passadas ou presentes, tentam encontrar alguma certeza em um mundo incerto e instável, dizendo: 'Somos diferentes e melhores do que os Outros' " [32]. O que seria exatamente mito? Tal como Tucídides, mais de dois milênios antes, Hobsbawm não apresenta uma definição. Invenção seria, por exemplo, fazer do presidente croata Tudjman um descendente de Zvonimir, o Grande. O que seria mito ? Pode-se depreender algo quando, citando Amos Elon, Hobsbawm diz que o Holocausto judeu "foi convertido em um mito legitimador da existência do Estado de Israel" [33]. Mitológico seria então um fato dotado de tal carga de significado que sustentaria uma noção de identidade e seria capaz de dar impulso à ação humana. Os rivais de Hobsbawm são professores (e talvez historiadores), e não poetas ou prosadores do passado. Mas como estes últimos, também elaboram versões falsas e absurdas de fatos que encantam e geram unidade de uma coletividade. Se o efeito dos mythoí, segundo Tucídides, não ultrapassava o momento da audição e da leitura, o dos mitos nacionais e fundamentalistas, conforme Hobsbawm, persistiria por um tempo maior, mas também acabaria por cessar. Aproximadamente meio século depois da independência da Irlanda, comentou o inglês, a história daquele país deixou de ser feita nos termos "da mitologia do movimento de libertação nacional" [34]. Algumas décadas seriam então necessárias para que os historiadores não mais fossem pacientes "das paixões dos grandes momentos traumáticos e formativos da história de seus países". Isso deveria ser um sinal de esperança para os historiadores [35].

Nos dois casos analisados, o antigo e o contemporâneo, a noção de uma "história verdadeira" assume sentido e significado pela sua contraposição a um visão falsa, absurda e, no mundo contemporâneo, perigosa do passado. A definição da história contemporânea como um saber verdadeiro e do historiador como um ator político é inseparável da noção de mito como algo falso e absurdo, mas mobilizador porquanto sedutor. Não se trata de uma simples reprodução da postura tucidideana – lá os "fatos mitológicos", também encantadores e geradores de identidade, eram falsos e incríveis, mas não tinham as mesmas potencialidades ruinosas dos "mitos contemporâneos", fundamentalistas e nacionalistas. Tucídides e seus homólogos não se viam também como atores políticos, nem imaginavam que suas histórias pudessem interferir nos acontecimentos com supõe Hobsbawm e muitos outros historiadores contemporâneos. Na história antiga e na contemporânea, contudo, a definição de verdade histórica não prescinde da apresentação daquilo que é suposto com sendo sua negação [36]: o mito, indistinto e variável conforme as épocas. É como não houvesse outra forma de definir a verdade. Por essa razão Detienne afirma: "Em si mesmos, nem o incrível nem o irracional constituem verdadeiros territórios; eles são a sombra inclinada de uma razão ou de uma religião de circunstância. E cada visão de mundo descobre uma mitologia nova, ajustada a seu saber, mas que parece reproduzir fielmente a anterior" [37].

O que fazer? Implicações.

A arbitrariedade da criação da noção negativa de mito é apenas um dos aspectos da crítica seletiva e sucintamente abordada neste artigo. Reconhecendo sua pertinência, podemos intentar a reformulação da antítese mito-lógos. Ordep Serra faz isso em seu artigo, depois de reconhecer o caráter problemático da oposição, seu "baixo rendimento cognitivo" e os equívocos por ela gerados [38]. Na sua opinião: "Tanto mythos como lógos indicam processos de comunicação em que algo vem a ser exposto (através da fala) O manifesto no processo do légein chega à patência como algo que se explana, que se 'deita à vista' numa certa ordem. Já mythos evoca um outro aspecto da linguagem: (...) é palavra que acontece, palavra 'acontecedora' " [39].

Outra alternativa é proposta por Calame: o abandono da noção de mito. Numa abordagem teórica que denomina de "semio-narrativa", Claude Calame procura reencontrar nas manifestações do processo simbólico as categorias que lhe são próprias [40]. Para tanto, propõe levar em conta as funções e as condições de produção das manifestações simbólicas que classificamos de história e de poesia [41]. Não há como, nem porquê, sustentar o uso do mito e a oposição deste ao lógos. Afinal, dada suas conotações negativas, a denominação das tradições como mitológicas nunca conseguirá eliminar o sentido pejorativo inerente a mito: não racional, primitivo, absurdo, falso [42]. Seja como for, resta saber que reformulações do entendimento da história deverão ser feitas como resultado do abandono da antítese que, da Antiguidade aos nosso dias, têm sustentado a idéia de uma "história verdadeira". Não será, necessariamente, abandonada a idéia de "verdade". Talvez ela seja melhor compreendida no momento em que abrirmos mão da "sombra" que é a noção de mito. Ela nos proporciona vantagens estratégicas em nossas disputas com saberes rivais, mas tolda a avaliação e a compreensão de nossa prática. Talvez descubramos que obras históricas também podem gerar identidade, mover coletividades e causar uma espécie de prazer. O resultado provável será uma melhor compreensão do que é a história e do que é ser historiador hoje. Como escreveu Veyne, referindo-se à discussão em torno do caráter científico de nossa disciplina, " a experiência prova que a indiferença pelo debate das palavras é geralmente acompanhada pela confusão de idéias sobre a coisa em si" [43].

NOTAS
[1] Este texto foi apresentado no VI Encontro Estadual de História – ocorrido em Passo Fundo, RS, entre os dias de 16 e 19 de julho de 2002, cujo tema era "ser historiador hoje" –, e deverá será publicado nos anais do evento. Toda a bibliografia usada na elaboração desse artigo encontra-se referida nas notas; todos os grifos do texto são de minha autoria.
[2] Marcel Detienne, Claude Calame e Paul Veyne compõem o "extremo pós-estruturalista", segundo classificação de Lowell Edmunds em: Greek mythology: an introduction, de Fritz Graf. Bryn Mawr Classical Review. Resenha. Periódico eletrônico disponível em http://www.ccat.sas.upenn.edu/bmcr/1994/94.09.10.html. Acesso em 20/10/2001.
[3] DETIENNE, M.. L'invention de la mythologie . Paris: Gallimard, 1982. Edição brasileira: A invenção da mitologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
[4] GINZBURG, Carlo. Olhos de madeira. Nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 (1998). p. 42-43. Para Ginzburg, "é mais do que discutível" a conclusão de que o "mitos" não existem e de que a mitologia foi "um discurso agressivo feito em nome da razão contra um saber tradicional indeterminado". Ginzburg não explica sua tomada de posição.
[5] Expressão de Ordep José Trindade Serra em: A antropologia, a mitologia e sua escrita. Clássica. São Paulo, v. 11/12, 1998/1999. p. 24.
[6] CALAME, Claude. Mythe et Histoire dans l'Antiquité Grecque. La création symbolique d'une colonie. Lausanne: Payot, 1996.
[7] "Lógosxmito: a verdade histórica e a crítica do mito", projeto que conta com uma bolsa de iniciação científica da PROPESQ-UFRGS.
[8] Com sua História da guerra entre peloponésios e atenienses, por vezes referida neste texto simplesmente como História.
[9] HARTOG, François. L'oeil de Thucydides et l'histoire. Poétique, Paris, 49, 1982. p. 22.
[10] Id.
[11] CHANTRAINE, P.. Dictionnaire étymologique de la langue grecque. Histoire des mots. Paris: Éditions Klincksieck, 1984 (1968). v. 2. p. 718-719.
[12] VERNANT, J-P.. Mito y sociedad en la Grecia antigua. 2 ed. Madrid, Siglo XXI, 1987 (1974). p. 171.
[13] E também por parte da Filosofia e da Medicina. Porém, é curioso que a História não possua, em seu exórdio, nome individualizador do gênero de narrativa que inaugura. Heródoto faz uma historíes apódeixis, uma "exposição pública" de sua inquirição (I 1.); Tucídides xunégrapse tòn pólemon, "escreveu a guerra" (I 1). Apenas no século IV, em homenagem a Heródoto, as narrativas deste, de Tucídides, e do que então será julgado congênere a um tipo literário específico, receberão o título distintivo de História. A imprecisão e diversidade original de métodos e objetivos explicam, em parte, o que sempre houve de arbitrário na definição do que é e do que não é História. Momigliano oferece um interessante painel dessa tarefa purificadora efetuada na Antiguidade em: Historiografia griega. Barcelona: Crítica, 1984. p. 09-45.
[14] De uma forma geral, o ataque à tradição assumiu a forma de incredulidade em relação ao "mito". Essa "incredulidade", segundo Veyne, seria proveniente de dois "focos": 1) um sobressalto de indocilidade à palavra de outrem; 2) a constituição de centros profissionais de verdade. Cf. VEYNE, Paul. Acreditavam os gregos em seus mitos. São Paulo, Brasiliense, 1984 (1983). p. 43-44.
[15] Ver, por exemplo, "Estruturas do mito". In: VERNANT, J-P.. Mito e pensamento entre os gregos. Estudo de psicologia histórica. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990 (1971). p. 23-103.
[16] VERNANT, J-P.. Mito y sociedad.... , p. 171.
[17] Id..
[18] Id..
[19] Ibid., p. 172-178.
[20] CALAME, C. Op. cit., p. 25-46.
[21] DETIENNE, M.. Op. cit ., p. 226.
[22] TUCÍDIDES. A guerra dos peloponésios e atenienses. I 21.
[23] Id.
[24] Id.
[25] TUCÍDIDES. I 22.4 . Tradução de Anna Lia Prado. TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
[26] CORNFORD, Francis M. Thucydides Mythistoricus. Philadelphia, University of Pennsylvania, 1971 (1907). p. 134.
[27] GOMME, A. W. A historical commentary on Thucydides. v. 1. Oxford: Clarendon, 1945. p. 149.
[28] Id..
[29] HORNBLOWER, Simon. A commentary on Thucydides . v . 1 . 2. ed. Oxford: Clarendon, 1991 (1992). p. 61. Resta difícil definir exatamente o que seriam tais histórias ou estórias. Gomme crê serem aquelas comuns em Heródoto, como a de Polícrates e de seu anel. Assustado com a possibilidade de que sua vida excessivamente venturosa atraísse a inveja dos deuses, o tirano de Samos desfaz-se, por conselho do faraó Âmasis, do que mais prezava em seu tesouro. Apesar de jogado ao mar, em área distante de sua ilha, o anel retorna à suas mãos no interior de um peixe ofertado por um de seus súditos pescadores. Com isso, o tirano e o faraó teriam compreendido que não era possível escapar ao destino. Polícrates acabou tendo a sorte funesta de todos os homens que atraíam a inveja divina devido a um sucesso excessivo. Mas para Hornblower, as estórias a que Tucídides se refere são as "patrióticas".
[30] É o que P. Veyne e Claude Calame denominam, respectivamente, de: "doutrina das coisas atuais" e "critério de probabilidade narrativa". Escreveu Veyne: "o passado é semelhante ao presente, ou, se preferir, o maravilhoso não existe. Ora, nos nossos dias, quase não se vê homem nenhum com cabeça de touro e existem reis; portanto o Minotauro nunca existiu e, quanto a Teseu, foi apenas um rei. " Cf. VEYNE, P.. Op. cit., p. 25-26; CALAME, C.. Op. cit., p. 10.
[31] VERNANT, Jean-Pierre. Mito e religião na Grécia Antiga. Campinas: Papirus, 1992 (1990). p. 23-24.
[32] HOBSBAWM, E.. Dentro e fora da história. In: _____. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 19.
[33] Ibid., p. 20.
[34] Id. .
[35] Ibid., p. 21.
[36] Outras noções caras à identidade ocidental também partilham dessa peculiaridade. Entre elas a de civilização, que, segundo Jean Starobinski, "faz parte da família de conceitos a partir dos quais um oposto pode ser nomeado, ou que começam a existir, eles próprios, a fim de se constituir como opostos." Civilização e barbárie, civilizado e bárbaro, mito e lógos, são noções casadas. Cf. STAROBINSKI, Jean. As máscaras da civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 (1989). p. 20.
[37] DETIENNE, Marcel. A invenção da mitologia... . p. 227.
[38] ORDEP, José Trindade Serra. Op. cit., p. 26-30.
[39] Ibid., p. 26.
[40] CALAME, C.. Op. cit., p. 06.
[41] Id..
[42] Nem Claude Lévi-Straus consegue evitar essas ressonâncias negativas de mito, a despeito de seu esforço em mostrar a dignidade e a importância do "pensamento selvagem" (muitas vezes dito "primitivo" pelo próprio Lévi-Straus). Cf. LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Campinas, São Paulo, 1989. Capítulo 1 – A ciência do concreto.
[43] VEYNE, Paul. Como se escreve a História. Lisboa: Edições 70, 1987 (1971). p. 9.

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(*) Departamento de História da UFRJ. 16/07/2002. http://www20.brinkster.com/gtantiga

Página atualizada em 30 junho de 2009

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