O Segredo

O conceito de “ressentimento passivo” introduzido por Luciano Pires retrata fielmente a dicotomia entre o discurso e a (falta de) ação dos brasileiros. O discurso já é velho conhecido: condena-se com veemência, e com razão, os nefastos acontecimentos político-sociais que, expostos pela mídia, tomam uma dimensão tão grande que, extrapolando a racionalidade, tornam-se como que um hino de louvor cheio de admiração aos que os praticam. As exclamações de vergonha e revolta têm a profundidade de um pires e a duração de horas ou dias.

Não temos consciência de cidadania. Enquanto condenamos o corrupto, achamos um jeitinho de driblar os impostos, de faltar ao serviço, de usar cabides de emprego, de recebermos uma graninha extra um tanto quanto excusa. Nem temos consciência coletiva para deixarmos ruas e cidades limpas, preservarmos o meio-ambiente, os bens comuns. Não temos respeito a nada e só defendemos nossos direitos. Deveres são para os outros. A nossa personalidade é novelesca; o nosso senso moral precário; o principal órgão de nosso corpo é o umbigo: ”cada um por si e o todo que se dane” (Luciano Pires). Não mais agimos; nosso discurso é pseudo-moralista. Na verdade, muitos de nós invejam o que os corruptos fazem e procuram seguir-lhe o exemplo em escala mais “modesta”. Realidade triste essa!

Entretanto, há o outro lado da moeda que não é escancarado na janela invasiva dos telejornais: neste país há milhões de CIDADÃOS! É verdade! Gente que trabalha pelo bem comum, voluntários da Cultura de Paz, que doam seu tempo, inteligência e boa vontade e que, ao invés de fazer marola falando,acalmam o mar, fazendo. São jovens, adultos e idosos que agem : não esperam, pois, quem espera não alcança. Espalhados pelo Brasil eles sabem que “esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, lição ensinada por Vandré, em outro contexto. E as ações multiplicam-se, não importa se invisíveis para a mídia. O que importa é fazer.

O Brasil tem jeito. O grande segredo é não se valorizar as falcatruas. É descobrir tudo o que de positivo realizamos. Quanto mais falarmos e participarmos de boas ações, mais elas crescerão. E haverá o momento em que, cachoeiras de águas límpidas, suplantarão as enxurradas de lama que estão solapando os alicerces da nacionalidade.

Neiva Pavesi

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