Juventude Adiada

          Grave, mas grave “mesmo” é o que está acontecendo com milhares de adolescentes brasileiros. É inaceitável o quadro que se apresenta!
          Meninos e meninas usam o próprio corpo apenas para divertir-se. “Ficam” aqui e ali, indiscriminadamente. Transam, aqui e ali “Just for fun” ( só por diversão). E numa dessas “ficadas”, cedo ou tarde, as meninas acabam engravidando. E daí, o que acontece?!
          Geralmente nenhum dos dois tem condições de arcar com a responsabilidade de um bebê: não têm profissão, nem emprego. Ou, se têm, o que ganham, devido à pouca escolaridade, mal dá para sustentar a si mesmos.
          O que se vê então, via-de-regra, é a menina assumindo todas as conseqüências.
          Têm seus estudos interrompidos, devido à fase de gravidez (às vezes, complicada) e amamentação. Depois, vêm as intermináveis e cansativas vinte e quatro horas de plantão, por mais ou menos um ano, na fase de desenvolvimento do bebê - em que ele depende exclusiva e totalmente dela. E então, sobram os banhos, as papinhas, as doenças, as febres, o nascer dos dentes, os esforços e cuidados todos para elas.
          Sozinhas, abandonadas por seus parceiros, - que a essa altura já estão com outras – passam os primeiros tempos a brincar-de-boneca com seus bebês. Mas, logo “caem na real” e percebem que “aquilo”, o bebê, é de verdade, e que não pode ser desligado como um carrinho de controle remoto ou uma boneca falante. É para sempre! E temos ai então o drama a desenrolar-se.
          A adolescente passa subitamente da inocência para o amargor e a revolta. A jovem, alegre e despreocupada, transforma-se na jovem triste e angustiada, que se sente marginalizada pela sociedade. É praticamente encarcerada viva por um bom tempo, até que seu filhote ou filhota possa caminhar pelas próprias pernas.
          É triste ver o penar solitário dessas jovens. Adeus, liberdade! Adeus, saídas noturnas! Adeus, paqueras, ficantes, amigos e namorados!
          Sobra apenas a cruel certeza de que sua juventude foi adiada por tempo indeterminado. E então bate a solidão e até a depressão, possivelmente. E o bebê? Ali, a espera de carinho, atenção, aconchego, paciência e alegria. Mas como dar aquilo que não mais se tem? Começa ai o calvário de um pequeno ser inocente.
          Sem pai e com uma mãe carente e solitária, faltará a ele o amor essencial da paternidade desejada e responsável, aquele amor divino e indescritível; que só quem teve sabe o que é.
          E o pai, menino também?
          Pobre pai, condenado a não assistir a momentos sublimes, como o primeiro banho de seu filho, a primeira mamada, o nascimento dos primeiros dentinhos, os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras gracinhas, o primeiro abraço, o primeiro beijo, o primeiro tombo, o primeiro choro!
          Pobre pai, condenado ao exílio das visitas rápidas! Pobre pai, condenado ao remorso que mais tarde virá! Pobre pai, condenado ao vazio da perda irremediável! Sim, irremediável porque o tempo não volta atrás, ou mesmo deixa de passar para esperar que ele seja homem feito, responsável, preparado para ser pai.
          Pobres jovens brasileiros, que assim começam sua vida familiar...!
          Esse quadro vem gerando problemas insolúveis para a nação. São famílias desestruturadas, chefiadas por mulheres, no mais das vezes, endurecidas pela dupla responsabilidade e portanto, duplamente carentes, psicológica e fisicamente: mães e filhos,cada vez mais dependentes do Estado Brasileiro.
          Precisamos olhar com mais carinho para essas famílias. Precisamos dar a elas algo mais que críticas e preconceito.
          Brasil: olha a tua cara!

Rita Velosa

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