CIDADES BRASILEIRAS

MARACANÃ: CINQUENTA E CINCO ANOS DE FUTEBOL (*)

Construído para ser o palco do primeiro Campeonato Mundial de Futebol a ser ganho pelo Brasil, o que não aconteceu, o Estádio Municipal, como era chamado na época o Maracanã, foi inaugurado no dia 16 de junho de 1950 com o jogo em que a seleção paulista venceu por 3x1 ao escrete carioca.
A inauguração foi feita oficialmente pelo presidente Eurico Gaspar Dutra e pelo prefeito do Rio de Janeiro, general Mendes de Morais, contando ainda, entre outras, com a presença ilustre do pernambucano Barbosa Lima Sobrinho, especialmente convidado para o evento.
Apesar da derrota, coube ao time carioca marcar o primeiro gol no novo estádio, através do meio-campista Didi, que entraria assim para a história do novo campo. É claro que, ao longo da sua vitoriosa carreira, Didi marcaria outros tentos memoráveis naquele gramado, sendo destaque o famoso gol de folha-seca feito contra o Peru, nas eliminatórias de 1957, e que nos garantiu a classificação para a Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Segundo a imprensa da época, na construção do monumental estádio foram gastos 564 mil sacos de cimento, 46 mil metros cúbicos de areias, mais de 10 milhões de quilos de ferro, 193 mil quilos de pregos e quase um milhão de tijolos. Ao todo, trabalharam na construção do estádio cerca de cinco mil operários. Depois de pronto, o estádio tinha 240 bilheterias, 45 bombonieres e 98 dependências sanitárias, comportando comodamente 150 mil pessoas.
Com exceção do segundo jogo contra a Suíça, em São Paulo, no dia 28 de junho, quando empatou por 2x2, a seleção brasileira efetuou todos os outros jogos da Copa de 50 no Estádio Municipal, onde marcou 20 tentos e sofreu apenas quatro. No dia 24 de junho, perante 180 mil torcedores, estreou goleando o México por 4x0. No dia 1º de julho, venceu a Iugoslávia por 2x0. Nos dias 9 e 13, aplicou duas sonoras goleadas: 7x1, na Suécia, e 6x1, na Espanha.
Não é de admirar, portanto, que o jogo final contra o Uruguai, no dia 16 de julho, quando perdemos por 2x1, tenha sido presenciado por mais de 200 mil pessoas. A cidade do Rio de Janeiro, na época Distrito Federal, tinha cerca de 2 milhões e 300 mil habitantes. Dez por cento da sua população foi testemunha ocular da trágica derrota.
Vale ainda salientar que foi no Estádio Municipal que o pernambucano Ademir de Menezes marcou os nove tentos que o consagraram como o artilheiro da Copa de 1950.
Consta que terminado o jogo final a multidão abandonava o estádio num silêncio fúnebre. De repente, possuída por uma revolta incontrolável, investiu ferozmente contra o busto do prefeito Mendes de Morais, entronizado na porta principal do estádio quando da sua inauguração. Derrubada, a estátua foi chutada pelas ruas da cidade até ser abandonada nas margens do rio Maracanã. Desde então o estádio passou a ser chamado pelo povo de Maracanã. A denominação persistiu até os dias de hoje, mesmo com o estádio tendo sido, posteriormente, rebatizado como Estádio Mário Filho.
No lugar da estátua do prefeito, à porta principal do estádio, existe hoje a imagem de Bellini, o capitão de 1958, erguendo triunfalmente a Taça Julles Rimet.

Clóvis Campêlo

(*) Crônica publicada no Jornal do Commercio, de Recife, em 19.06.2005.

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