Gislaine:

Aquilo que verdadeiramente é mórbido não é falar da morte, mas nada dizer acerca dela, como hoje sucede. Ninguém está tão neurótico como aquele que considera ser neurótico decidir-se a pensar sobre o seu próprio fim. 
(Philippe Ariès)

Minhas vidas possuem lentas águas de adeus, águas de adeus, águas e adeus, lentamente... Minhas vidas... Como calamidades em eufóricas metamorfoses, lágrimas de amanhã agasalhadas sobre pálpebras, sempre sob efêmeros sabores de quando e onde, sempre, sempre, sempre acordar revoltas de invernos nas rodovias de veias em decurso, sempre...
Minhas vidas... Vidas que possuem várias outras vidas envolvidas numa única conveniência de viver, seguramente. Vidas que vão e vem, vão e vão sempre, sempre vão para algum lugar que ainda não sei para onde se vai. Vidas que, de acenos em retratos sobre prateleiras vivem sussurrando rasuras do que iriam ser... Dia após dia... Em denso resumo engasgado perplexo na garganta, um resumo na garganta engasgado com sua perplexidade de momentos, rastejando minutos, relógios (menos o tempo, o tempo recluso no recurso cirúrgico dos ponteiros do relógio). Menos a morte que a galope trina e trinando sorve de adeus as águas das lágrimas sobre a metamorfose da euforia das calamidades.
Menos minhas vidas, vidas vividas que vivo envolvido em meio a um igual a outra multidão amarga de morte. Menos o tudo aquilo que fecunda aquele vazio que contamina, do peito cuja fagulha inflama de sabores quando-efêmeros.
É ou são de... Universos indeterminados, pelas esquinas, nas janelas. Astros e rastros... Junto de seus fins sem previsões de começos, caminham. Restos... Na necrose de fugas despejadas no útero do cinzeiro. Rumos... No útero soterrado em lacerantes dores de saudades. Adeus... Vida que foi, foi e foi para sempre foi para algum lugar que ainda não sei. Foi e saudades. Vidas minhas. Cinzas... Para sempre. Versos... E saudades inversas ao show de versos avessos ao suicídio...
Remorsos... Ninguém... ”Consegue me ouvir, me ouvir, me ouvir consegue, consegue me ouvir”?
Talvez...
Pelas dores caminho, porém não é a dor em si que incomoda. O que incomoda é o som em dó maior que transborda, feridas, das sombras desta dor. Seguramente...
Certamente... É uma brincadeira e estou brincando de não brincar a brincadeira que todos brincamos. Há tumulto que do peito destila denuncias de agitação. Está ao redor, rasgando sem piedade, sem piedade rasgando o que sou... Quanto mais penso que tenho medo, mais o medo tem medo de se amedrontar diante de mim, mais o medo se torna uma despedida que amedronta o meu presente, a minha rotina de embriões de aritmética de letras supuradas no contexto das lacunas inquilinas nos indícios do papel.
Uma verdade...
Sim, estas são as minhas vidas, vidas minhas trinando com o tempo em decurso o seu recurso no acordar das veias sob um inverno de revoltas.

E elas possuem o seu passar, um passar lento de lágrimas e adeus...

Para sempre...

Diego Ramires

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