Villa Igea, Villa di Gargano (Brescia), Lago di Garda, Itália, 19 de novembro de 1912.

      Minha querida Louie,

               Sua carta e o pequeno retrato chegaram bem até aqui. A foto é muito igual a você — parece incomum.
               Quero dizer que lamento ter sido tão mau-caráter com você. Você sempre me tratou muito bem — e eu... bem, só no fim reconheci que não íamos dar certo. A culpa é toda minha. Penso em você com respeito e gratidão, porque foi generosa comigo — e penso em mim mesmo sem nenhuma satisfação, asseguro-lhe. Dizer isso é tudo do que sou capaz nesse momento.
               Estou vivendo aqui com uma mulher a quem amo e com quem, se for possível, vou casar quando chegar à Inglaterra. Vivemos juntos, como marido e mulher, há quase seis meses, e espero que sejamos sempre marido e mulher.
               Sinto-me um animal ao escrever isso. Mas faço-o para ser honesto com você. Nunca a enganei a respeito disso e de mim, está bem? Vou casar e anunciar tudo na primavera, espero — se sair o divórcio.
               Continuo muito bem de saúde — mal de finanças — e feliz o suficiente. Gostaria de me redimir pelo que fiz a você. Se continuarmos a nos escrever, porém, sinto que vou fazê-la sofrer ainda mais, e seria melhor parar logo — mais sensato, talvez.
               O melhor que você pode fazer é me odiar.
               Detesto assinar isso,

                                                     D. H. Lawrence

Do livro: Cartas do Coração - Uma antologia do amor, org. Elizabeth Orsini, Rocco, 1999, RJ

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Pesquisa de Leila Míccolis: David Herbert Richards Lawrence (11/9/1885 - 2/2/1930) foi escritor inglês autor de romances, novelas, contos, poemas, obras de teatro, ensayos , livros de viagem, traduções e crítica literária. Também dedicou-se no final de sua vida à pintura de aquarela. Louie era amiga de Lawrence dos dias em que o romancista viveu em Nottingham e Eastwood. Realizando seu desejo mencionado na carta acima, realmente com Frieda Weekley, baronesa alemã (Von Richthofen era seu sobrenome de solteira), vive o resto de sua vida. Quando conheceu Lawrence, Frieda, mais velha seis anos do que ele, estava casada com um profesor de línguas modernas do próprio Lawrence na Universidade de Nottingham: Ernest Weekley, e tinha e tinha três filhos pequenos. O romance entre os dois começou na casa dos pais de Frieda, em Metz (fortificação alemã perto da França) e, dali, ambos viajaram para os Alpes italianos, de onde provavelmente foi escrita esta carta. (Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/D._H._Lawrence#cite_note-11).
Sobre a conturbada vida íntima de Lawrence, leia-se: archiviostorico.corriere.it/1993/marzo/27/pessimo_quell_amante_lady_Frieda

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