JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator  (clique ao lado para ler a fortuna crítica). novo: Aleilton Fonseca

Coluna de 30/06

Lula e a corrupção

      A platéia aplaudiu com entusiasmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizer que ninguém tem neste País mais autoridade moral que ele para combater a corrupção. Chega a ser comovente a esplendorosa imagem que Sua Excelência tem de si mesmo, mas aqui serão relacionados alguns fatos que produzem controvérsias a essa sentença:

1 – A viúva do ex-prefeito de Campinas Toninho do PT tentou entregar ao chefe do governo um abaixo assinado pedindo a reabertura do inquérito policial sobre o assassínio do marido, mas ele não a recebeu nem tomou conhecimento de seu pleito. Apesar de ser petista e popularíssimo em sua cidade, o falecido nunca foi muito benquisto na cúpula do partido e não era propriamente fã de Jacob Bittar, um velho amigo de Lula dos tempos do sindicalismo sobre cuja gestão na prefeitura de Campinas pesam algumas dúvidas, muitas das quais aventadas pelo “de cujus”.

2 – A família do ex-prefeito petista de Santo André Celso Daniel, também assassinado, tem certeza de que Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência da República, sabe mais sobre o crime de que foi vítima seu parente, quando era chefe da campanha de Lula. Não há notícia de que o chefe tenha dado ordens para o subordinado se explicar de forma cabal a respeito. O tema é arriscado: a Folha de S. Paulo relacionou sete vítimas fatais entre testemunhas das relações perigosas da vítima com os acusados de serem seus algozes, entre os quais o primeiro amigo Sérgio “Sombra”.

 3 – O ex-subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz foi filmado e gravado achacando um elemento conhecido como “Carlinhos Cachoeira”. Apesar de ter confessado o delito, não foi afastado do importante cargo “a bem do serviço público”, mas pediu demissão. Seu ex-companheiro de quarto e superior hierárquico no Palácio do Planalto, José Dirceu, só saiu da chefia da Casa Civil um ano e quatro meses depois da denúncia, sem ter posto o pingo nos is , como prometera fazer. A Polícia Federal, subordinada ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, já teve três inquéritos devolvidos pelo Ministério Público por terem sido mal feitos e o Judiciário não consegue enquadrar o acusado, que continua passeando sua impunidade nas superquadras e entre gôndolas de supermercados na mesma cidade onde Lula vive.

4 – O presidente nacional licenciado do PTB Roberto Jefferson se vangloriava de que o presidente lhe teria dito que, por conta de uma tal travessia solitária do oceano, mereceria um cheque em branco. Sabe-se que o interlocutor eventual se queixou da falta de veracidade da versão, mas oficialmente nunca a negou. Aliás, ninguém tem conhecimento de nenhuma providência que Sua Excelência tenha tomado depois de informado sobre o tal “mensalão” (mesadas que o PT é acusado de pagar a parceiros da base aliada) por pelo menos dois políticos com cargos de responsabilidade: Jefferson e o governador goiano Marconi Pirilo (PSDB).  O ex-aliado, que virou desafeto e é sério candidato a bode expiatório da corrupção nacional, conta que Lula chorou, por se ter sentido apunhalado pelas costas, e que há indícios de que o pagamento cessou. Mas não há notícia de nenhuma providência prática contra os acusados de corrupção nos Correios, a não ser o afastamento do segundo Waldomiro, o burocrata (“de terceiro escalão”, segundo o presidente da República), Maurício Marinho, por doença, e não por ter embolsado uma propina em cena transmitida ao País inteiro pela televisão.

Diante de tudo isso talvez seja apenas uma licença semântica, um arroubo de egolatria, imaginar que Luiz Inácio Lula da Silva seja o brasileiro mais preparado para comandar o desmanche da velha e sólida instituição da corrupção nacional. Ou não?

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