JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, que acaba de obter o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL (clique no título da obra para ler a fortuna crítica).
Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor

Coluna de 8/12

Dois cadáveres que perturbam

Dois mistérios fundamentais em torno dos assassínios de Toninho do PT e Celso Daniel permanecem: quem mandou matar os prefeitos petistas? E por quê? Há outras duas perguntas capitais que, do ponto de vista policial, não têm tanta  relevância, mas do ângulo político, são tão (ou mais) importantes que elas. São estas: por que o PT faz  questão de manter os casos circunscritos à banalidade da violência comum? E por que a polícia estadual paulista, sob o comando do adversário dos petistas Geraldo Alckmin, do PSDB, avaliza essa hipótese absurda, com o apoio tácito da Polícia Federal, que ignorou os casos quando ainda estava sob o comando do tucano Fernando Henrique?

Para sustentar a hipótese do crime comum no primeiro caso, a polícia de São Paulo ignorou evidências incríveis em contrário, que se têm reforçado com o tempo. Os policiais elaboraram a pouco lógica hipótese de que o seqüestrador Andinho teria assassinado Toninho do PT porque, mau motorista, este teria atrapalhado a fuga de sua quadrilha no carro em que ele estava. Até hoje o gênio que inventou essa teoria estapafúrdia não conseguiu arrancar a confissão de Andinho nem explicar como matar o motorista que atrapalhava facilitaria sua fuga. Mais de 4 anos após o crime os investigadores oficiais nunca levaram em conta a informação de duas testemunhas de que o trânsito estava congestionado na noite de 10 de setembro de 2001 à saída do shopping em que Toninho foi alvejado. Ou seja, a morte do prefeito de nada serviria aos propósitos de seu assassino. De posse dessa informação, complementada pelo fato de que as testemunhas viram os assassinos trafegarem no sentido oposto ao da vítima, o perito da Unicamp Ricardo Molina considerou nula a simulação do crime.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também ainda se recusa a receber a viúva de seu companheiro, Roseana Garcia, a quem prometera (e não cumpriu) reabrir o caso, quando assumisse a presidência da República. Somente agora, diante do impacto do depoimento dela, o líder do governo no Senado, Aluízio Mercadante (PT-SP), anunciou na CPI dos Bingos a entrada da Polícia Federal no caso.

Lula e o PT têm tentado tapar o sol com a peneira também no caso de Celso Daniel, assassinado quando era prefeito de Santo André e coordenador do programa de governo da campanha petista à Presidência. Dos argumentos utilizados para reforçar sua convicção de que o crime foi comum o único que tem alguma consistência é o de que a conclusão do inquérito policial foi essa. De fato, foi. Mas o inquérito foi tão mal feito como o seriam os três até agora produzidos pela Polícia Federal para esclarecer o flagrante explícito de achaque de seu ex-subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz. Três anos e dez meses depois do assassinato, o senador Eduardo Suplicy, que está mais para inspetor Clouseau (da Pantera Cor de Rosa ) que para Hercule Poirot (dos romances de Agatha Christie), ainda localizou duas testemunhas do seqüestro que jamais haviam sido abordadas pela polícia. Para tanto, usou um método simplório, mas eficaz: bateu de porta em porta na rua onde Daniel fora seqüestrado. E as tais testemunhas relataram ter visto Sérgio Gomes da Silva, apontado pelo Ministério Público como possível mandante de crime, comportando-se à vontade, como agente, e não vítima da violência.

Nesta era pós-delubiana até os próprios cadáveres perturbam o PT.

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