JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, que acaba de obter o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL (clique no título da obra para ler a fortuna crítica).
Leia novo texto de Ronaldo Cagiano na fortuna crítica do autor

Coluna de 16/2

Leitura sagrada (*)

Li Grande Sertão: Veredas , de João Guimarães Rosa, três vezes. A primeira foi no quarto dos fundos, no quintal da casa onde morava na Rua Rui Barbosa, atrás do Colégio das Damas, em Campina Grande. Li freneticamente sem parar, sem dormir, quase sem comer.Aquele texto encantador, cheio de nuances, tão rico de vocábulos e ao mesmo tempo de uma precisão exemplar na descrição de tipos e paisagens, me encantou, me arrebatou. A segunda vez foi num passeio de turismo. No ano em que descobri que a morte passeava nas alamedas de minhas veias, sob a forma de diabetes, cumpri um roteiro turístico com a família pelas cidades históricas de Minas. De Belo Horizonte dei um pulo até Cordisburgo, a cidade natal do autor, e conheci a venda do pai dele. Ali tive a segunda dimensão não só daquele romance de gênio, mas também de toda a sua obra literária: era como se estivesse ouvindo as conversas dos peões, boiadeiros e tropeiros que paravam ali para se abastecer e certamente introduziram o autor, desde menino, a seu linguajar típico, fixo àquele solo, mas universal ao mesmo tempo. Faço a terceira leitura até hoje. Leio o romance como me habituei a ler poesia e como também faço com a Bíblia. Não é texto para ser relido de um fôlego só nem de enfiada. Convém abrir uma página a esmo e mergulhar nele até onde o tempo permitir, deixando que seu ritmo, sua prosódia, invada as retinas e assim chegue à alma e ao coração. Recorro a esse exercício sempre que sinto necessidade de encontrar num texto maravilhoso alheio meu próprio estro perdido na leitura da porcaria toda impressa por aí afora.

(*) Em comemoração aos 50 anos da edição da obra-prima de nossas letras sertanejas.

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Aproveito a oportunidade para alertá-lo de que voltou a circular texto apócrifo a mim atribuído fazendo críticas ao Big Brother Brasil, programa a que nem sequer assisto. Pelo visto, a cada nova edição, o apócrifo voltará. O pior é que nem posso dizer que é atribuído a mim. Pois a assinatura é de um fictício Neumani.
Clique aqui para ler o texto de Nêumanne a respeito do texto apócrifo.

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