JOSÉ NÊUMANNE
Jornalista, editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida  e O silêncio do delator, que acaba de obter o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL (clique no título da obra para ler a fortuna crítica).
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Coluna de 23/2

Peripécias de Prestes em Piancó

Um ancestral dos Pinto do Rio do Peixe, chamado pelos seus de Caboclo por causa da tez escura da pele dele, a cujo clã este escriba pertence, furtou a amada na igreja e com ela, a cavalo, fugiu da perseguição do sogro e inimigo de Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, descendo o rio Piranhas abaixo até aportar em Piancó, onde foi bem recebido e se casou. Um irmão de minha mãe, médico em Recife, casou-se com uma filha de Maria Leite, da família dos donos do vale do rio que banha a cidade e lhe dá a denominação, conforme registro histórico sacramentado em inglês por minha amiga, Linda Lewin, historiadora de Berkeley, na distante e dourada Califórnia, em sua obra Politics and parentela in Paraíba . Também dos Leite descende o deputado Wilson Braga, filho do coronel Chico Braga e grande amigo de meu pai, Anchieta Pinto, desde os tempos da UDN de Zé Gadelha e João Agripino. Em Conceição, nasceu Elba Ramalho, que conheci adolescente como coriféia dos corais falados de poesia de Betinha Marinheiro, em Campina Grande, bem antes de se tornar estrela de música popular.

Com um apelo para essas meras coincidências, pois, afinal, mesmo tendo nascido tão perto, ainda não tive a honra de conhecer as cidades do Vale do Piancó, Josealdo Rodrigues Leite, que não se perca pelo nome, pede-me uma introdução para seu romance de cordel Os mais violentos dias do Piancó . Sujeito desarnado, o autor, não é mesmo? Sertanejo de ouvir violeiro no alpendre de meu avô materno, em cuja casa nasci, e coco de embolada do bom nas feiras de Campina Grande, não tinha ainda travado conhecimento com essas “modernagens” de poesia épica de bancada com prefácio. Mas, como sempre houve, há e haverá uma primeira vez, eis-me aqui para louvar este resgate da história da movimentada vida e da violenta morte de Padre Aristides por ocasião dos 80 anos de passagem da Coluna Prestes por Piancó.

Com os diabos, diria meu avô, o velho Chico Ferreira (na verdade, ele diria mesmo era co'os diacho), apois não é que o diabo do Padre que ousou enfrentar os Leite terminou sendo a única vítima do comunismo no Brasil e o fora antes mesmo de o capitão Luiz Carlos Prestes haver aderido ao catecismo de Marx, Engels, Lenine e Stalin? Pois não foi? Esse episódio sangrento e estúpido da História do Brasil, que os compêndios ignoram, aqui está resgatado e relatado com talento de escol. Confira e veja.

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