"NOZARTE EM BLOCOS", POR RICARDO ALFAYA

Ricardo Alfaya, Rio de Janeiro, 08.08.1953, formado em Direito e Jornalismo, é poeta, contista, cronista, articulista, ensaísta e editor do Nozarte Informativo Impresso e Eletrônico. Blogue: http://nozarte.blig.ig.com.br

Coluna de 21/5
(próxima coluna: 21/6)


QUAL É O TOM? TOM ZÉ.


1) Tivemos a boa notícia, remetida por Everi Rudnei Carrara, de sua entrevista a Antônio Abujamra, no programa "Provocações", no dia 08 de maio, às 23 horas, pela TV Cultura de São Paulo-SP.

2) Everi tem sido uma das figuras mais atuantes do movimento alternativo.  Conhecemo-nos no início dos anos 90, a partir do intercâmbio entre nossas publicações então impressas. Eu fazia o informativo Nozarte e ele editava o excelente jornal Telescópio, que chamava a atenção pelo conteúdo inteligente, com diagramação extremamente ousada, inclusive divulgando tanto poesia escrita quanto visual. Atualmente ele mantém Telescópio em forma virtual, no seguinte endereço:
http://geocities.yahoo.com.br/telescopionegro/index.htm

3) O aviso sobre a entrevista deixou-me alerta em relação à possível transmissão do programa aqui no Rio de Janeiro. Assim, no dia 07 de maio, sábado, ao passar pela TVE percebi a presença de Abujamra. Parei no canal e logo descobri que desta vez ele entrevistava o compositor Tom Zé.

4) Deu para acompanhar boa parte da conversa. Um aspecto positivo, que me chamou a atenção, foi o de Tom mencionar que existe uma grande força cultural atuante, formadora de opinião, que passa inteiramente ignorada pela grande mídia.

5) Aliás, o próprio Tom Zé de certa forma já fez parte dessa "grande força" ignorada. Indagado sobre como pôde sobreviver de música durante sua longa carreira, ele esclareceu que sobreviveu graças ao circuito universitário, em especial do estado de São Paulo, que sempre o convidou para shows e apresentações diversas.

6) O episódio me fez refletir sobre as inúmeras nuances que assumiu e que ainda assume o movimento cultural paralelo, genericamente chamado de "alternativo".

7) Por sinal, com a tendência à fusão das artes, à mixagem e ao intercâmbio de linguagens, podemos notar a presença constante de elementos oriundos de uma militância estética em outra. Saraus combinam música e poesia. Escrevem-se e recitam-se versos inspirados em pinturas e esculturas. Récitas assumem clima de dramaturgia e comédia. Isso sem falar nas exposições e varais de poesia visual, pioneiras em romper os limites entre a literatura e as artes plásticas.

8) E certamente vem mais por aí. Com o advento das novas mídias (CD-Rom, DVD, aparelhos reprodutores de MP3, etc) há motivo para supor que literatura, música, artes plásticas, fotografia, filmografia e dramaturgia estarão cada vez mais próximas e mesmo integradas. Com o acréscimo de que aumenta o número de aparelhos editores dessas mídias a preço acessível.  Isso significa que cada vez maior número de artistas e intelectuais poderá dispor de recursos para veicular de maneira alternativa a sua arte e seu pensamento.

9) Nesse sentido, é importante lembrar que os poetas da "geração mimeógrafo" e os chamados "artistas marginais" desempenharam notável papel precursor, sendo os primeiros a mostrar portas e janelas, saídas, perante um sistema então arrogante, fechado e extremamente autoritário.

10) Portanto, embora sem a mesma unidade ideológica de combate que caracterizou os pioneiros, o movimento alternativo, considerado como "força", no modo como bem sugeriu Tom Zé, indubitavelmente cresceu, ganhou novos e inesperados matizes, inúmeros recursos. E sua tendência é à expansão, contribuindo para o processo libertário do espírito humano.

Rio de Janeiro, 08 de maio de 2005.

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