Coluna de 21/8
(próxima coluna: 21/9)
UMA NOITE DE POESIA, SIMPLESMENTE
1. Eventos públicos, reunindo poetas em mostras e recitais, têm sido um ponto forte e constante no movimento literário alternativo. No Rio, vários encontros do gênero acontecem. Um dos mais interessantes e importantes é o "Terça Converso no Café", todas as terças-feiras, a partir das 18:30h, no Teatro Gláucio Gil, localizado na Praça Arcoverde, em Copacabana Nele apresenta-se o grupo Poesia Simplesmente, sob a coordenação de Elvé Monteiro de Castro.
2. Pois lá compareci em 16 de agosto, quando se deu o lançamento, no Rio, de "Tempo de Encanto", livro de poesia que tive a satisfação de prefaciar. Trata-se de obra escrita pela paraibana Regina Lyra, que veio de João Pessoa especialmente para a ocasião.
3. Integrando os dois eventos, ao final da récita, Regina desloca-se do setor de lançamento para o palco. Fala de seu trabalho, de seu sentimento por aquele instante especial. Por fim, declama. Encanta a todos, obtendo muitos aplausos da casa lotada.
4. Outros poetas também recitam Lyra. Um deles, Edir Meirelles, autor do comentário da quarta capa de "Tempo de Encanto".
5. Para nós, motivo de alegria ainda rever Rosa Born e cumprimentar o casal Reynaldo Valinho Alvarez e Maria José, gentilíssimos.
6. Reynaldo descobre que descendo de família de Pontevedra (Espanha) por parte de pai. Temos aí um fator em comum. Revela-se um homem erudito, de uma memória notável, mas que sabe contar histórias e apresentar idéias sem afetação. Logo descubro seu amor e conhecimento sobre a cultura galega, especialmente no tocante à Língua.
7. Presenteia-me com dois excelentes livros poéticos de sua autoria: "O Sol Nas Entranhas" e "Lavradio". Com o primeiro, de 1982, Reynaldo obteve o "Prêmio Status de Poesia Brasileira", então promovido pela revista "Status", certame cujos jurados foram Affonso Romano de Sant'Anna, Adélia Prado e Mário Chamie.
8. Porém, Reynaldo há muito já superou a fase em que um escritor necessita apoiar-se na citação de vitórias em concurso. São tantos os que o admiram e respeitam que se pode, sem favor nenhum, considerá-lo um nome consagrado de nossas letras. E com justiça.
9. Com suas 82 páginas, Editora Três, São Paulo-SP, "O Sol Nas Entranhas" é um livro belo e impactante, enriquecido pela capa e ilustrações de Darcy Penteado. Por outro lado, "Lavradio", com suas 223 páginas, Myrra, Rio de Janeiro, 2004, incluindo poesia e fortuna crítica, revela-se obra de estrutura mais complexa, que mereceu análises extensas de Astrid Cabral e Antonio Olinto, entre outros.
10. Enfim, uma memorável noitada. Um agradável interregno neste período politicamente tão difícil, de notícias tão sombrias. Uma bela e agradável noite de poesia, simplesmente.
Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2005.