NO TÁXI ETC

- Boa noite, disse-me o chofer ao abrir a porta com uma torção do corpo.

- Boa noite, respondi.

Indiquei o trajeto. Para o Shopping. Continuava em mim certa música a tocar, dentro do ouvido, no meu cérebro. Chuva fina. Matutina. Ruas molhadas, reflexos no chão. Algo no ar, certo romantismo. Chego no Shopping através da venda das flores. Circulo nos corredores, vejo vitrines e lojas. Entro, por inevitável hábito, na livraria. Passo entre alas de livros, vou à secção de discos. Volto, vejo livros nas estantes. Vejo, felizs, dois exemplares do meu “novo manual”.

De repente aí está: “Livro ensina a encontrar um marido usando táticas de Harvard” (LOS ANGELES, Reuters), o livro "Find a Husband After 35 Using What I learned at Harvard Business School", escrito pela ex-consultora de marketing Rachel Greenwald, hoje se dedicando a treinar mulheres a encontrar maridos.

Encontrar marido não é fácil nos EUA, diz a matéria, onde existem 28 milhões de solteironas, com mais de 35 anos, contra apenas 18 milhões de homens na mesma situação.

Greenwald montou programa constante de 15 passos, mostrando às mulheres como "embalar" melhor seu "patrimônio", como desenvolver sua marca pessoal, utilizando um telemarketing para divulgar seu interesse em encontrar alguém, e até mesmo fixar um orçamento para a busca do marido, realizando revisões de desempenho para avaliar resultados obtidos. Uma empresa.

Em breve este livro estará no Brasil.

A papelaria exibe artigos coloridos. Saio. No caixa eletrônico, faço imprimir meu saldo. Magro, pouco, como sempre. Me dá raiva ser pobre. Mas continuo andando, subo a escada rolante, vejo cartazes de filmes.

Vejo livro de sonetos de Shakespeare. Minha tradução do soneto ganhou aprovação da Dra. M.V., professora de literatura inglesa da UFMG e UFSJ. Ela mandou-me um email: “Prof. Rogel,  Adorei a tradução. Acompanho sempre as crônicas. Já deve saber que o nosso mestrado....” O soneto foi publicado também em http://www.blocosonline.com.br, graças à generosidade de sua fundadora. Mas depois disso eu já fiz mudança no texto: no quarto verso “na memória sua herança”, em vez de “sua herança na memória”. O som de “herança”, seu “ã”, entoa com o “ã” de “ansiamos”. E ficou assim o soneto shakespeariano:

Daquelas belas criaturas retorno ansiamos,
A que suas belezas nunca morram
E quando cair do tempo o Outono
Guardemos na memória sua herança

E Tu, que só teus belos olhos amas,
Te alimentas apenas de tua própria chama
E produzes fome onde abundância existe
Por que teu suave ser é tão adverso?

Pois és do mundo agora o ornamento
És o único cantor da primavera
E recusas em ti o teu contentamento
 

Egoísta da natureza que há contigo
Do mundo não tens piedade, nem lamentas
Se colher no chão do túmulo o que te foi servido

Possivelmente, mais tarde, continuarei a fazer novas modificações.

Não encontrei nenhum livro de J.M. Coetzee, escritor que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2003. É africano, branco, nasceu na Cidade do Cabo, em 1940, escreve em inglês. Leciona na Universidade de Chicago. Sei que há edição de seu romance "Vida e Época de Michael K" na Companhia das Letras, 1983.

Diz Mario Vargas Llosa que Coetzee é um dos melhores romancistas vivos. Com seus romances Life and Times of Michael K (1983) e Disgrace (1999), ganhou duas vezes o Booker Prize, prestigiosa distinção literária na Grã-Bretanha:

“Os dois são excelentes, diz Vargas Llosa, e, além do mais, o último é estremecedor, pela revulsiva e dramática representação que proporciona dos conflitos sociais e lesões psíquicas com os quais a África do Sul se defronta desde a queda do regime do apartheid e a instauração da democracia. Há em Disgrace (infelizmente traduzido para o espanhol com o título de melodramático de Desgraça, quando na verdade seu equivalente é "Cair em desgraça") um dos episódios mais difíceis de narrar num romance sem naufragar na truculência”.

O prêmio Nobel é valioso, cerca de 10 milhões de coroas suecas, ou 1,3 milhão de dólares. Já houve outro Nobel de Literatura sul-africano, que foi a escritora Nadine Gordimer, em 1991.

E para o Brasil, nada?

Na volta para casa, a chuva forte.

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