O FUTURO DA LITERATURA COMPARADA

Bastante contraditórias têm sido as conclusões de alguns congressos internacionais de Literatura Compara. Alguns pesquisadores proclamam ali a sua vitalidade e expansão, enquanto outros apontam para seu desaparecimento, através de uma certa crise de identidade.

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Isso ficou patente no XV Congresso da Associação de Literatura Comparativa Internacional, realizado na Universidade de Leiden, em Leiden, Holanda, de 16 a 22 de agosto de 1997, que teve a participação de pesquisadores do mundo inteiro, com seiscentas participações.

O Presidente da Associação, Gerald Gillespie (de Stanford) dedicou a sua Mesa Redonda a este tema.

O pesquisador de Bloomington, Henry H.H. Remak, expressou a opinião de que a influência dos modernos estudos literários, desde que os anos sessenta, estão dissolvendo gradualmente a Literatura Comparada no domínio de outras ciências sociais, e ameaçando seus padrões, que são difíceis de dominar, com a maestria necessária, como por exemplo o suficiente conhecimento de vários idiomas estrangeiros e da inteira complexidade, forma e conteúdo das literaturas nacional e mundial.

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De acordo com Remak, a Literatura Comparada deveria ser reduzida «a novamente ser o que tradicionalmente foi», ou seja, uma proposta conservadora para as suas áreas de estudo e para aquelas tarefas conhecidas da Literatura Comparada, mas de acordo com a complexidade interdisciplinar contemporânea.

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Douwe W. Fokkema (de Utrecht), sugeriu que a Literatura Comparada deveria ser o estudo da disseminação social e geográfica dos textos literários, suas convenções e leitura, que ele relaciona com a sociologia, além dos procedimentos de compreensão dos textos (aqui relacionados com a ciência cognitiva), e da posição e do papel da comunicação literária em seus vários ambientes sociais e culturais (aqui conectado com estudos culturais).

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Em oposição a Remak, David Damrosch, da Universidade de Columbia, falou a favor de soluções práticas do problema, o que não é tão simples.

Ele acredita que mais pessoas deveriam assistir aos congressos, com «espírito interdisciplinar», e que se deveriam formar grupos de funcionamento menores, internacionais, que dedicassem seu tempo a projetos de curto prazo, nos períodos históricos pequenos, entre projetos de alcances maiores.

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O principal tema do Congresso de Leiden foi «Literatura como Memória Cultural». Sobre isso falou o conhecido crítico Jonathan Culler.

A cerca deste tema, disseram também alguns que o estudo da memória cultural revela movimentos importantes no desenvolvimento da Literatura Comparada, devido à influência do novo historicismo, do feminismo, da teoria de discurso, da psicanálise, das teorias pós-coloniais e do pós-estructuralista.

A Literatura Comparada não vê a literatura como área autônoma da cultura - continuam eles - penetrada quase exclusivamente por valores estético-artísticos e espirituais, mas enxerga a literatura como expressão humana que, além do reconhecimento de sua natureza específica (fictícia, poética) é entrelaçada com redes de várias culturas, sociedades, instituições, idiomas, ideologias e lutas. A literatura é penetrada por tensões entre passado e presente, o central e o marginal, o estabelecido e o proibido, o documentário e o fictício, o público e o suprimido. O tema do Congresso indicou que essas características da literatura se parecem com outros meios de expressão, como por exemplo o ritual, o mito, a arte, o filme e a história, que estabelecem e preservam uma identidade, uma tradição dominante de uma certa cultura ou sociedade, influências de suas mudanças, das características monolíticas ou pluralistas, e das relações das políticas externas com outras comunidades e culturas.

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