1. Para Eliot / (com aquela cara de padre inglês que Deus lhe deu)/ há de haver sempre massa e elite intelectual./ Para Borges/ a democracia é uma superstição estatística.   //  Gota de sangue em cada poema/ Ao alarme, prefiro o ladrão. (Otávio Ramos (BH), in "Gibi" - Edições Dubolso (Sabará/MG).

2. Minha vida é uma janela, disse P.H. Xavier. Enquanto que Fernando gritou lá fora: "minha vida é uma jaula". Janela que o empregado da minha avó encerou. Jaula cujas grades sào de papelão. *** Assinado por Haroldo de Campos, acabo de ler o poema "Baladeta à moda toscana", "(para arrabil e voz,/ e para ser musicada por/ Péricles Cavalcanti)". O poeta cita a Lira Paulistana e "aquela Diana caçadora". Antes mesmo de ler o poema de H. Campos, já eu comentava Diana e Caetano Veloso. *** "e me fizeste flama/ anfíbio e mandarim/  e brilhaste/ à tona de mim" (Geraldo Fidelis da Silva (Porto Alegre/RS).

3. Segundo Arnaldo Jabor, "todos os anos começam eacabam dentro de nossa cabeça"... E os jogadores realmente já jogados (também os dados) vão lançar os dados novamente... ***  "poeta é aquele que, como o urso, tem gordura bastante para chupar suas patas durante todo o inverno hiberna neste mundo e se alimenta de seu próprio tutano" (Thoreau). Sem dúvida, como disse Rodolfo Serkin, a principal qualidade do homem é a inteligência.

4. Comentário que Verinha ouviu perto do Cine Rio Branco: "Ed Bigodudo parece ser descrente". Depois ela escutou alguém dizer: "Nada disso! ele é metido a maldito". *** Disse certa vez o Padre Caetano Vasconcelos, que o melhor do homem, coisa que ele levou muito tempo para descobrir, mora dentro do próprio homem.

5.    décimo terceiro solo
                  - Wilmar Silva  (BH)
       cortar o sol em mil estrelas
       mergulhar entre a enchente
       rumo à enseada da tua proa
       (fome e sede ao meio-dia
       onde bato o meu tambor)
       diamante miçanga ametista
       no embornal sem barbante, colar de ouro/mi-
       nas

      - Do livro: "Solo de Colibri" (Editora Blocos)

6. Sobre o livro SERES HUMANOS (contos), de Djanira Pio (SP/SP), dou uma palavrinha: é muito bom. *** A imaginação poética deve fazer nascer um mundo novo. (Rimbaud) *** Enquanto isto, uma janela se abre em Minas/ onde mar não há, disse o poeta Ronald Claver.

7. ES-CONFORME: Você é um dia só/ (eu sou a existência?)// você é o espetáculo/ que se desmancha/ eu asmanchas// você abre gestos ao vento/: eu abro as veias a/- penas (Aricy Curvello (Jacaraípe/ Serra/ES) in "Mais que os nomes do nada"). *** Uma estátua de bronze. Um cavalo. É possível que inventado por Clarice Lispector. Eu tenho a visão de suas formas especiais. Como cavalgaria aquele poeta que escreveu um poema sobre a velocidade? Tantos cavalos petrificantes - sonâmbulos. Eu vi um cavalo baio passar velozmente num filme de Antonioni. Perfilou-se (é verdade) diante do abstrato. *** FLOR DE MELANCIA: Tenras e brilhantes/ As flores de melancia/ Lagarta se farta (Teruko Oda, SP/SP).

8. "Machucado pelas grandes placas do tempo/ o homem avança como as veias do mármore que querem/ se poupar os olhos/ numa correnteza onde as trutas com cabeças de/ ventilador/ arrastam pesadas carretas de espuma de champagne"... (Benjamin Péret) *** "Embora você esteja/ em todos os quartos/  do meu corpo,/ em todas as estrebarias/ do meu delírio,/ você é agora: / algo definitivamente morto/ a sonhar castelos medievais." (Ubirajara Galli, in "Licores da Carne"). *** E ela chorou como nunca havia chorado em toda a sua vida. *** "baixo ventre" - fogo quente/ queima/ arde/ e acorda a brasa: / o triângulo/ se incendeia...  (Urhacy Faustino).

9. (...) Passa da conta a expressão do rosto,/ mas a expressão de um homem bem talhado/ não aparece apenas em seu rosto/ — está também nos membros e nas juntas,/ acha-se curiosamente/ nas juntas dos pulsos e dos quadris,/ está em seu modo de andar,/ no porte do seu pescoço, na flexão dos joelhos e troncos" (Walt Whitman).

10. À tarde falei com Krug Pilard que esse negócio de pílula de dormir não é uma boa. Aquela personagem de Clarice Lispector se apaziguava muito com pílulas de fazer dormir, e levitava à noite, recheada de sonhos. Um grito surdo de desespero pára o mundo. A pílula, aliás, tem a propriedade de fazer esquecer os constantes e insuportáveis fracassos do cotidiano.

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^(***) Juntamos duas colunas de Zanoto de 1998, em Blocos Online,  para elaborarmos esta página — uma espécie de "avant première" do que estará online, a partir de 15 de maio.