"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

Coluna de 15/11

1. “O pescador sabe / de cor / o alfabeto das areias // e das espumas / que pronunciam / branco”... Alberto Pucheu, poeta fluminense, que escolhido por Assis Brasil, está na antologia “A Poesia Fluminense no Século XX”. Disse Leonardo Fróes: “Ainda moço e ao longo de três livros, Alberto Pucheu já se transformou o bastante para encontrar sua fala.”
     “Nem perguntas. Nem respostas. / A suspensão bate o ponto do pensamento”. (Alberto Pucheu).

2. Meu amigo Zé Maria da Silva afirmou, outro dia, que a ficção da insuperável Clarice Lispector empurra o leitor a uma tomada de consciência do ser. Eu gostaria de saber o que diria meu amigo Ed Bigodudo, se vivo, a respeito.

3. No dia 18 de setembro de 1996, Yêda Schmaltz, excelente poeta também goiana, falecida recentemente, que é excelente poeta também já o disseram P.H. Xavier, Targino Valias, Anadyr Medrado Dias, Fernando Prince, Carlos Villar, Nilto Maciel, Mariano Campos, Luiz Fernandes da Silva e muitos outros, escreveu na sua coluna “OLHO D'ÁGUA”, no Diário da Manhã (Goiânia/GO): “ZANOTO — Você já ouviu falar em Zanoto? Se não conhece, não pode ter a certeza de que está militando na mais atual e (marginal) poesia brasileira.”

4. E estes caminhos, depois disso, não podiam ficar sem um poema de Yêda Schmaltz: Como se faz o pão, // se constrói o poema: / ele precisa descansar; / em seguida reler / e ver se ficou bom. // Depois é publicar, / vender; quem dera / fosse o poema necessário / como é o pão, / para o gentio sobreviver. // A vida é madrasta / e não afaga: / o poema morre à míngua / enquanto que o poema / embrulha a uma bisnaga.

5. Rodolfo Serkin ficou curioso, querendo saber alguma coisa sobre Anadyr Medrado Dias. Ela nasceu no Rio de Janeiro. Estudou Direito e Línguas Neolatinas. Doutora em Direito Pena e Direito Público. Foi Monitora da DefesaPassiva Antiaérea durante a 2ª Guerra. Poeta e escritora. Participa de várias entidades culturais e literárias. Membro da Academia de Letras e Ciências de São Lourenço (MG). Publicou livro de crônicas e contos. É uma intelectual atuante.

6. Ruas

Ruas desertas
Pessoas desertas
(Emoções desertas).

Mas o Poeta escreve torto
Por linhas certas.

(Silas Corrêa Leite)

7. Uma vez, na década de setenta, conversando com Júlio La Barca, que acabara de ler “Memórias Sentimentais de João Miramar” – eu perguntaria a Leila Míccolis e ao meu velho e querido amigo Joaquim Branco, de Cataguases, se hoje em dia alguém ainda lê o famoso e gostoso romance de Oswald de Andrade – que ele gostaria de ser. De pronto, gostaria de ser Júlio La Barca, o meu primeiro ideal. Ser Érico Veríssimo, o segundo ideal. Depois me segredou que tinha um terceiro ideal: ser Ademir Menezes, jogador de futebol do Vasco da Gama. Caríssimo Júlio La Barca; sendo assim você pouco falaria de literatura ou poesia e muito de futebol. Revelou-me depois que durante cinco anos foi comentarista esportivo da ZYB-2 Rádio Clube de Varginha, comentando partidas de futebol.

8. Certa vez descobri alguns poemas de Iranildo Sampaio de que gostei muito. Olha, meu Deus, aqui está um bom poeta. Isto acontece muito com a gente que pesquisa poetas, divulga poetas e recebe quantidades de livros de poetas. Na mesma hora eu fiquei desejoso de saber que direção estava voltada a inspiração de Iranildo. Tempos depois, numa revista e num suplemento literário encontrei outros poemas de Iranildo Sampaio, este, por exemplo:
     ”Meu espelho é menor que a minha sombra. / Meu palco de ilusões é tão restrito, que ainda estou / do outro lado. // Minha geometria tem seus ângulos e seus longos / diâmetros. // Eu mesmo não sei se ainda estou neste circo. // Mendigo as minhas idéias e escrevo / poemas para o vento.”
     É claro que você que me está lendo gostou.
     Aníbal Albuquerque me falou, há bem pouco tempo, que eu procurasse ler “Catecismo Espiritual”, de Iranildo Sampaio, um livro sensacional, em que ele mostra sua força poética. Me parece que Iranildo é cearense.

9. Não quero mais que um som de risos sem malícia, sem ironia. Enquanto que Fernando Pessoa disse: “Não quero mais que um som de água”. Enquanto escrevo, pingam votos para John Kerry e para Bush. Não sei ainda, neste minuto de escrita, quem ganhou. Torço por Kerry. Também pingou, de madrugada, chuva na minha vidraça, que amanheceu respingada. No mais é como disse o poeta varginhense José Maria da Silva: “Corre o vento e corre o tempo/ na majestosa serra de Campos Gerais (...) corre o tempo / tempo de amar / tempo de viver...”

10. Um filme de Bergman que ainda está intacto na minha memória é PERSONA. Um filme, sem dúvida, magnífico, desse extraordinário cineasta sueco, feito em 1966. Do mesmo modo como sempre achei que Antonioni (cineasta italiano) se preocupava com a incomunicabilidade humana, isto ocorre magistralmente no trabalho de Bergman. A incomunicabilidade humana, em “Persona” não está tão declarada aos olhos do espectador como em outros filmes. Citemos mais três grandes obras de Ingmar Bergman: “O Sétimo Selo”, “Morangos Silvestres” e “Gritos e Sussurros”. Celso Falabella considera “Gritos e Sussurros”, uma obra prima.

11. Um haicai de tirar o chapéu

Num mosteiro em Rodes
o silêncio é quase um grito
doendo. Nas paredes.

- Berredo de Menezes (Caxias/MA), poeta, ficcionista, advogado e professor universitário.

12. No mais é como disse o poeta Jorge Tufic: “Só se sabe que o sapo fêmea existe / quando ele coaxa”.

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