"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna de 15/4
(próxima: 15/5)

1. Fernando Prince, num papo com Nivaldo Alves, estando eu e P. H. Xavier ouvindo, comentou texto de Thomas Merton (Mariano é fã de Merton), em que esse teólogo falou que Adão foi, primeiro que tudo, "um contemplativo" e afirmou que "o GÊNESIS parece dar toda a importância à sua vida ativa no Paraíso." Aliás, Thomas Merton disse que "no paraíso, não havia oposição entre ação e contemplação". P. H. Xavier perguntaria a todos se Adão trabalhou, organizou e cuidou do jardim do paraíso? O Gênesis diz que Deus colocou o homem no jardim do Éden, para o cultivar e guardar.

2. CONTRA CIFRA

     o sabão
     chifra
     o couro
     dos animais
     funcionários

- Arthur Omar, in "O Asno-Íris".

3. A linguagem versus retórica, imagens, sinais, significados e significantes. Rodolfo Serkin tira o chapéu para Edgar Morin, ao explicar que "as imagens suscitam processos complexos de identificação, de projeção, de transferência."
    E sigo: Autran Dourado é excelente escritor. P. H. Xavier é fã incondicional deste autor. Faça uma forcinha, meu care, e não dispense, diz-me ele, leia "Arnas & Corações", de Autran Dourado. Você vai gostar.

4. SABEDORIA
                                  Glenda Maier (RJ)

         E por mais diferentes
E ferrenhos que sejam os sonhos
            Não dogmatize.
    Aceite sempre a possibilidade
de alguém sonhar diferente de você.


5. NOVELHA COZINHA POÉTICA
                                  Waly Salomão

Pegue uma fatia de Theodor Adorno
Adicione uma posta de Paul Celan
Limpe antes os laivos do forno crematório
Até torná-la magra-enigmática
Cozinhe em banho-maria
Fogo bem baixo
E depois leve ao Departamento de Letras
Para o douto Professor dourar.


6. Você sabe, caríssima Hygia Ferreira, que Mano Melo disse que depois de Guimarães Rosa o idioma brasileiro nunca mais foi o mesmo? O sonho pragmático.
     O sonho pragmático. Você não dorme, fica acordado. Busca a companhia de Neruda. Depois, se infiltra em meio a uma avenida carregada de gente e tenta acionar a multidão.

7. Caríssima Lúcia Nobre (RJ): P. H. Xavier se convida para acompanhá-la, às três da matina, numa garrafa de bom vinho e "dois Irish Coffes". Um cavalo alado, sem dúvida, passará levando Philip Larkin, que tomou o lugar de Ezra Pound, no passeio noturno. E P. H. Xavier, possivelmente, conversará tanto, que o papo de vocês não se acabará nunca. Tenho certeza de que às quatro da matina Farah Diba se insinuará, entre vocês, e também ficará de papo até o dia clarear. E a noite, por enquanto, está propícia para um poema de Manuel Bandeira. "Feliz é aquele que pode escrever ao amigo distante: hoje podei minhas roseiras. Mais feliz ainda é aquele que, a custo, aprendeu a escrever, para poder escrever ao amigo: eu também hoje podei roseiras.", escreveu Saint-Exupèry, in "Cidadela". Depois, é claro, P. H. Xavier se afastará, o dia claro, indo sozinho pela avenida central da cidade, tendo acordes de W. Amadeus Mozart acompanhando seus passos. Começará, então, um dia maravilhoso no mundo. O meu abraço para você.

8. PASSEIO
    Oh! não há nada como um pé depois do outro... (Mário Quintana)

9. Lembrei-me hoje de que Rafael Vieira Duarte (Rio/RJ), no ano de 1990, me escreveu e disse assim: "... Você, Zanoto, faz seus Diversos Caminhos com doses fortes de amizade, boa vontade e dedicação à literatura e à poesia"...
    Segundo Fernando Fábio Fiorese Furtado (J. de Fora/MG): "O poema não restitui o tempo aniquilado"...

10. Estou vendo a lua nascer. As nuvens formam, no céu, ao lado da lua que desponta, um pagode chinês. E cito Rachel Jardim: "A solidão de minhas personagens significa plenitude". O recinto de minha inspiração, agora que a lua está todinha no espaço, se enche de alegria e luminosidade.


11. DE VINCENT A SEU IRMÃO THEO VAN GOGH

uma chama em minha mão
um fogo mágico: eis
o que abre a prisão.
O que liberta alguém do cativeiro:
girassóis iluminando o chçao.
segura
-mente, como se queima em desenho
o traço agudo,
e o mundo, em pintura

      - Aricy Curvello - MAIS QUE OS NOMES DO NADA (Serra/ES)


12. E por seu turno, Otávio Ramos esclarece: "O wind faz sua camisa tremular. As estrelas brilham no sky. As waves se chocam contra as rochas."
      Por aí vou: "desdobrarei com segurança as asas/ que não temo abobada de cristal,/ quando corto do éter o sopro azul,/ em vôo veloz ao universo estrelado,/ muito abaixo deixando esta esfera terrestre/ e os instintos mesquinhos que nela imperam." – Giordano Bruno.

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