"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Colunanº 19, de 15/3
(próxima: 15/4)

1. O conista pede um tempo
    E diz adeus. Para pensar na
    Vida e em outras coisas.

         - Luiz Fernando Emediato

2. Olho pela janela, e um lobisomen passa correndo. Eu penso num trecho de metafísica que Rodolfo Serkin me mostrou certa vez. O hobisomen, aliás, me repassa, no corpo, um longo calafrio. Krug Pilard acha estranho que haja lobisomens na praça, pois o lugar deles é no cerrado, na companhia de caiporas. Anotei a observação de Pilard e fui me engajar nas páginas de um livro de Thomas Merton.

3. Quem vê cara, dizem, não vê coração... Também não vê alma. O tempo nos envelhece. Faça da palavra ternura uma força em sua convivência.

4.          BRASILEIRO
    
        APESAR DO SAMBA
             DO FUTEBOL
             DA MULHER
        TRAGO NA ALMA
 UM PROFUNDO SENTIMENTO
             BAUDELAIRE

         - Chagal

5. Creio que por volta das duas horas da madrugada acordei com o telefone e meio tonto de sono, bamboleando, fui atender. O meu telefone fica na sala. Do outro lado, alguém simplesmente assobiou. Meu caro (não sei se é meu amigo, é possível que não), você não pode imaginar como o que você fez é irritante; me proporcionou motivo para um palavrão. Advinhe qual foi. Pode ser esse mesmo que você pensou.

6.  Numa tarde quente, aqui na praça, do galho de uma árvore, um pássaro me fita, eu percebo. Por que será que está me olhando tão fixamente? Aguardo tranqüilamente que o Sérgio chegue. Tenho que falar com ele sobre uma casa no Catanduvas. Um senhor passa vendendo laranjas. Duas meninas passam também e uma delas fala em Ana Botafogo, a bailarina. É bem provável que elas (ou uma delas) sejam alunas de Marlene Rodrigues. Será que as laranjas daquele senhor estão boas para uma laranjada?

7. SEMPRE AO PORTÃO

    Quando você não vem
    parrece que a noite
    se alonga e as estrelas
    desistem
    e vão embora
    cadentes de tristeza...

        - Mônica Banderas

8. O que resta da saudade da rua Rio de Janeiro? Creio que muita coisa. Resta aquele carrinho, com rodas de rolimã, do Luizinho Santos. Os papagaios que Rafael e Marcelo faziam. O café-com-leite e bolo da Dona Zelinda, o jogo de futebol com bola de pano ou borracha na rua, uma briga - a primeira que vi - muito feia entre dois rapazes na rua, cujos nomes só de um me lembro: jacinto, briga que foi preciso várias pessoas para separar, um tombo terrível que tive da mangueira da casa do sr. Antonio Barros, a Eunice, filha do sr. Santos, que mais tarde se casou com o Tim, e um carrinho de madeira, que o sr. Santos, que era marceneiro, fez só pra mim.

9. À MÁRIO QUINTANA - Os teus versos, Quintana, / sapato florido, / canção de inverno ou de bar, / têm esse jeito das coisas / que vieram para ficar. - Jorge Tufic.
    "Escrevo por uma necessidade fisiológica" - Rachel de Queiroz.
    E no mais, disse Gabriel Naxcente: "Os que nasceram gatos / morrerão gatos".

10. Recebo belíssimo postal do escritor Enéas Athanázio (Balneário Camboriú/SC): além da praia, uma vista parcial da cidade. Minha memória trabalha numa deliciosa recordação do balneário, onde já estive mais de cinco vezes. Com os olhos no postal, eu materializo a imagem da avenida beira-mar, e faço um passeio com os pés nas areias da praia.

11. No fim da tarde / Cantando voltam pro ninho. / Passarada de outono. - Paulo R. Rodrigues.
      Nem laranja, nem cereja, mas uma macieira carregadinha de maçãs. Viver o outono. A água desce, batendo forte nas pedras. Uma xícara com café requentado.

12. Já ouvi alguém dizer que, pra melhorar, tem primeiro que piorar. Acredito que seja um negócio meio perigoso.

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