Em nome do Bush...

— Que coisa aquele negócio de clone, hein!

— É mesmo, ô novelinha que não acaba mais. Sempre a mesma lengalenga com a Jade "harando" com tudo que é homem que aparece.

— Tô falando da novela não, mocorongo. É daquele doutor metido a Deus lá da Itália, que disse que este ano vai nascer o primeiro clone humano.

— Tá doido? Isso só acontece em novela, sô.

— Acorda, Zé João! Em que mundo você vive? Tá em tudo quanto é capa de jornal por aí, rapaz.

— E eu lá sou masoquista pra ler jornal? Mal mal eu leio o jornalzinho da igreja... se bem que depois desses escândalos todos envolvendo padres eu num tô nem indo mais às missas. E te digo mais: só volto à igreja depois que padre puder casar.

— E o que é que uma coisa tem a ver com a outra!? Só por que um ou dois padres são meio tarados não é razão pra você se afastar da igreja não. Uma coisa não justifica a outra. Ou você acha que Deus vai deixar de ser Deus por conta de um deslize de um servo Seu?

— Sei lá...

— Óia, óia, que Deus castiga, cara.

— Que castigue! Mas que castigue quem desonra Seu nome, como esse doutorzinho de merda italiano, não a mim... Francamente. O homem não consegue entender sequer suas criações, agora deu pra querer interferir na dos outros...

— Do Outro.

— Isso, do Outro. Se bem que tá uma vergonha este mundo, né não? Que Deus me perdoe, mas se eu fosse Ele eu dava um fim nesta joça.

— Larga de heresia e deixe que a direita acabe com o Brasil e o capitalismo norte-americano com o mundo...

— Taí outra coisa que eu não concordo. Por que os Estados Unidos têm que se meter onde não são chamados, hein!? Eles fazem vista grossa pros problemas raciais lá das bandas deles e vão meter o fucinho lá nos canhões do Oriente? Tão caçando Antraz pra cheirar, né não? Se eu fosse Deus acabava com os States também! Varria do mapa. Cozinhava... Não, não, varria nem cozinhava não: vendia pro Brasil.

— E o Brasil iria pagar com o quê? Com a ginga do carnaval? Com a receita da feijoada? Com o silicone da Feiticeira? Com o quê, meu filho?

— Com futebol, claro.

— Ah, não! Cê vai me desculpar mas agora cê embibolou de vez... Ô, Manezinho, traz mais uma pra risca que agora o trem desandou... Que futebol, cara? Futebol brasileiro já era, rapaz, como já era fórmula 1. No quesito esporte a gente só tira primeiro lugar é com nado livre em enxurrada. Te liga!

— Que seja! Também, pagar pra quê? Era vender fiado ou vender fiado! Quem seria o Bush pra me encarar se eu fosse Deus?

— Óia que o homem é doido, sô. Pra ele, enfrentar Bin Laden ou Deus, é a mesma merda... Dá até pra imaginar a Inglaterra e os States guerreando com Deus. Aposto dez contra um que eles montariam bases em toda via láctea...

— Aí cê tá apelando, tá não!?

— Que nada! Eles seriam capazes de organizar missões de reconhecimento no espaço, fuçariam cada cratera de Marte à procura de Deus. Isso, sem contar o tiro ao alvo que promoveriam nas estrelas... seria bacana demais, cara!

— E se eles conseguissem pegá-Lo?

— Ora, se Ele fosse pego, corte marcial no Barbudo. Teria que responder em Haia por todos os crimes contra a humanidade que vem cometendo desde que criou Adão...

— E a sentença?

— Reclusão de uma a duas eternidades... Sem fiança.

— Deixe-me ver se eu entendi bem. Prenderiam Deus e, pelo andar da carruagem, elegeriam Bush como novo Onipontente, é isso?

— Exatamente.

— Seria legal mesmo. Imagina a gente na igreja fazendo o sinal da cruz: em nome do Bush, do Blair e do Yasser Arafat, amém. Tem dó, meu filho... Ô, Manezinho, traz mais uma aí... mais uma, não, pode trazer o litro de uma vez.

Rinaldo Brandão

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