HOMEM-LOBO

                                ... e inventaram também um pobre, grande e terrível homem-lobo. Obra monumental, verídica e sobretudo incoerente, efeito dos grandes inventos da era moderna, que a todo momento nos prova a deficiência de uma evolução desnorteada. O nosso homem de hoje é o mais formidável invento da era moderna.

         Ganhou o mundo, nos últimos tempos, armas poderosas no campo nuclear, máquinas eletrônicas que deslumbram o próprio homem, novos horizontes de pesquisas, grandes remédios para grandes males, e grandes males provenientes de remédios. Ganhou uma concepção nova de tempo, distância e união.

         Conseguiu lado a lado inventar um novo homem, feroz, ambicioso mas doente e medroso de si mesmo. Um homem a quem uma quantidade imensa de inventos desvalorizou seu trabalho. Um homem-lobo cuja luta pela sobrevivência lhe fez perder os valores de bem e mal. O homem conheceu a ausência e desejou o absoluto, a essência de algo indefinível. O homem inventou a própria vida, mas não vence o tempo. Descobriu novas vidas, mas a sua ficou mais vazia, plena de uma enorme inquietação: o mistério da morte.

         E como o homem ainda governa a sua inteligência, continua criando... e a inquietude aumenta. A grande busca porém está chegando a seu clímax. Porque o homem, usando a sua inteligência, apenas busca vencer o tempo para encontrar o seu Criador, do qual sente que aos poucos se separou.

        O homem-lobo devorando cordeiros vai encontrar outro homem-lobo pois, como dizia Rubem Braga: “que o gavião mate a pomba e o homem mate alegremente o gavião; ao homem,se não houver outro bicho que o mate, pode acontecer que encontre seu gavião em outro homem. A vida é rapina”

                        ... e é isso que anda acontecendo... mas tudo tem fim!

Célia Lamounier

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