Henrique Freitas e nossa saudade

          Conheci o Henrique Freitas há bastante tempo. A primeira vez que conversamos, ele tinha me escrito falando acerca de um texto meu, que gostara muito. E disse-me que eu escrevia com meiguice, o que dificilmente acontecia no mundo de hoje. Passei a ler seus poemas na Usina de Letras, e notei uma certa amargura no que dizia. Simpatizei com aquele sulista tão talentoso, que se expressava com simplicidade, e parecia possuir grande sensibilidade.

          Percebi, então que alguma coisa tinha acontecido e ele se julgava vítima de uma injustiça. Falou-me disso ligeiramente, mas sentia que se mostrava reticente em comentar o assunto. E quando me escreveu convidei-o para ser autor-convidado do meu site. O meu amigo era uma pessoa singular. Ao lado de uma certa tristeza que eu sempre notara, era preocupado com as pessoas em geral. Tinha um grande senso de justiça, gratidão e ética.

          Costumava escrever-me toda a semana para falar das novidades que eu mandava através do boletim e seguidamente dizia da sua alegria em estar site vaniadiniz.

          Henrique era dessas raras pessoas que não se detinham para criticar ou se queixar. Se o fazia era mui raramente e de forma passageira. Pessoa excepcional pela sua conduta sempre reta e compreensiva.

          Havia publicado três livros com grande sacrifício, mas estava desiludido com o senso de valor dos autores que a mídia não alcançara. E realmente nessa homenagem, enfatizo esse lado solitário e sofredor dos escritores brasileiros. O meu amigo escrevera sempre de maneira persistente e nunca conseguira um lugar ao sol, mesmo porque financeiramente não dispunha de uma quantia para isso.

         Há algum tempo atrás, notei que ele desaparecera de circulação e não enviava os poemas que costumava mandar com regularidade. Vim, a saber, que tinha sofrido um enfarto e estava em fase de recuperação. Agradeceu-me sempre com sensibilidade, o fato de nunca ter deixado de mandar para ele as novidades e atualizações do site, apesar da sua ausência.

         Soube que sofria de uma lesão congênita localizada no coração. E lamentei por aquele colaborador excepcional, amigo das letras que vendia seus livros sem divulgação, mas freqüentando as feiras de livros e não tendo cacife para colocá-lo nas livrarias.

           Lamento por todos nós o pouco valor que os órgãos de cultura brasileiros dão àqueles que se dedicam à nossa literatura quando vemos a displicência com que tratam os escritores brasileiros que ainda não foram reconhecidos.

           Domingo ele se foi. Com apenas 37 anos, sonhos a se realizarem, ilusões que ficarão em cada linha escrita, emoções que moraram em seu coração forte de sentimentos e frágil pela lesão que o haveria de levar.

       Domingo, dia 21 de junho, ele se foi, com a nossa saudade, a crença no que escrevia, a inspiração que brotava fácil e eloqüente, a sensibilidade que o absorvia, a esperança que deixou em cada canto que passou e o talento que espalhava com facilidade em cada palavra escrita.

         Domingo ele se foi, deixando-nos, com a impotência que sentimos, nessas horas de grandes tristezas e reais sofrimentos.

         Você se foi, Henrique, mas suas palavras continuarão com a mesma força e vigor que fizeram com que elas nascessem. Vá, meu amigo, mas deixe conosco a sua energia que encontrará no universo ressonância e impregnará o espaço de mais força e beleza.

         Eu me despeço, amigo confiando sempre no seu talento.

 Vânia Moreira Diniz

« Voltar