Gente de Ninguém

Vagabundos famintos deambulam pela cidade sem a fé de outrora, porque o lixo é pobre. Já não tem restos de comida como no passado.
Agora os munícipes sao comensais rigosos e implacavéis, porque o custo de vida arrebata muitas paciências e deixa estomagos desconfortavéis.Mendigos escalam a urbe todas as sextas feiras na esperança que os subditos de Allah sejam misercordiosos para com eles. Mas nem todos são abençoados pela dávida do misercordioso e acabam mais pobres, porque o cansaço rouba-lhes as poucas energias que possuíam e regressam a casa sem fé.
Meninos analfabetos proliferam pelas ruas da cidade e não imaginam há existência do alfabeto de Camões e companhia limitada. Os seus ideais são outros , nas suas mentes repousam sonhos de banquetes com muitos manjares. São todos designados por meninos de rua, nomes todos eles tem, mas ninguém quer saber , nem eles próprios , talvez tiveram certidões de nascimento, mas concerteza os seu pais acabaram por acender uma fogueira, para resguardarem-se do frio, preparar um manjar, ou mesmo para limpar o cu dependendo das circunstancias. Agora eles residem num canto da cidade, sonham ao relento. Fazem parte da sociedade que os ignora. São desta pátria parida há vinte e seis anos quando se dizia que a criança é seiva da nação.
Também os loucos carregam sua insanidade pela urbe e exibem acrobacias gratuitas enchendo de alegria crianças que só conhecem o circo pela televisão.
Vendedores ambulantes fazem promoção de vários artigos mesmo sem conhecimento de “marketing”,mas a polícia camarária esta sempre no seu encalço, para lhes dificultar a sobrevivência.
Estão condenados a miseria sem quartel todos vós, meninos de rua, vagabundos mendigos e insanos. Estamos todos lixados incluindo vós os corruptos, porque chegará o dia do julgamento final, confedenciou-me um afamado médium. Mas enquanto não chega o dia do julgamento, a luta continua.
A cidade continua manchada de sangue derramado por cidadãos pacatos que lutavam em prol dos seus, e o espírito dos corpos baleados vagueia algures pela cidade aguardando o momento para se vingarem dos seus carrascos.
O lixo transborda dos contentores, e permanece no asfalto em muitas esquinas, inviabilizando o transito já desorganizado protagonizado pelos motoristas de “Chapa 100 “ que transformam rodovias em pistas de formula um, na luta sem escrúpulos que travam entre si na busca de passageiros. Cobradores de “chapa”imploram os citadinos para viajem em seus “mini buses”, mas uma vez a bordo os passageiros são maltratados e humilhados porque de passageiro o indivíduo passa a simples carga a bordo.
A taxa de lixo instituída pelas concelho municipal, ainda não combate o inimigo implacável que é o lixo mas cria dissabores financeiros a muitos citadinos que lutam desarmados contra o custo de vida.
Mesmo assim uma quietude paira na cidade numa manhã de domingo qualquer com acerto no calendário da nossa era, e a frescura de Verão vem impregnada com o cheiro nauseabundo libertada pela decomposição do lixo, mais o acido úrico de bebedores de todas as barracas que proliferam pela cidade e arredores.
Entretanto vereadores municipais se mostram impotentes para estancar o lixo, mal que se tornou um símbolo da capital.
E a vida continua com a oposição do lixo e outros malefícios urbanos.

Alex Dau
(Malputo/Moçambique)

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