Côncavo e convexo

Não sei se sou doente. Vai ver estou doente. Não é a mesma coisa. Sinto-me cada vez mais delirante, mais arrebatada, entregue sem censura às minhas fantasias. É uma sensação muito gostosa que me traz alívio e paz.
Por vezes, penso que encontrei uma alma semelhante à minha. Sensível, sofrida, calejada, corajosa. Contudo, sua crueldade é enorme e isso de certa forma me assusta, faz-me retrair. Sei que suas dores ultrapassam de muito às minhas, entendo sua revolta, mas acho terrível sua forma de expressá-las. Creio que o elo que nos une talvez seja a capacidade de sentir dor... e de gostar da dor. A diferença, a meu ver, é que a expressamos de formas diversas, um mais forte, dominando e sabendo usar o sentimento. A outra, mais frágil, deixando-se levar sem saber como, nem pra onde. Ambos, entretanto, seguem o mesmo caminho.
Não sei que força é essa que nos impeliu um contra o outro. Será o destino?
O homem que se avilta, se humilha e ao mesmo tempo se vinga é regido basicamente pela razão.
A mulher idiotizada pela sensibilidade, pela culpa, pela sensualidade, vive de pura emoção.
Os dois desenvolvemos uma atração pelo perverso, pelo proibido. Gostamos de transgredir! Gozamos sofrendo e dominando, e usamos como arma a sedução. Mentimos, iludimos, mas também nos entregamos vivendo nossas próprias fantasias. Temos gostos e sabores semelhantes. Provamos e não rejeitamos o gozo delinqüente, funesto.
Deve ser deste modo que nos completamos: o côncavo e o convexo. Um perfeitamente acoplado ao outro. Sintonizados. Ajustados. Não precisamos do contato físico, nossa conjunção é virtual. Nossas mentes se tocam, se acariciam, enquanto os pensamentos se beijam, apaixonados. Por vezes elas se distanciam, arredias, temendo uma entrega maior. Outras vezes, exasperadas, lutam à exaustão. Mas estão sempre próximas, conectadas, buscando a união, o perfeito entrosamento.
Às vezes nem tão perfeito assim. Mas um entende o outro ou assim pensa.
Desse modo vão vivendo, melhor dizendo, deixando-se viver.
E uma caiu na mão do outro. Ou terá sido o contrário?

Danna D.

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