Às urnas sem véus

                Enquanto as ordens do horário eleitoral interrompem a vitalidade das formas orgânicas e, ainda por cima, desanda a cosmogonia iludida dos eleitores, decido falar sobre a ministração da vida evolucionante, por força de acordar o mundo adormecido, porque é bem certo que a História não nos conta tudo. Sobretudo permito o risco breve e aperfeiçoado que nos dá asas entre o real e o infinito, lançar o seu respeito à felicidade e à cidadania. Então, estou revendo uma dessas cúpulas espontâneas da sociedade, que muitas vezes escondem até certo instante o melhor vinho de mesa, quando este se aproxima da gente e alegra trêmulo o coração que quer saltar em ações verdadeiras.
                Subitamente sou uma mulher feliz, de batidas regulares, sangue jorrando normal à altura do peito, pensando somente no vasto e nos fenômenos naturais de uma chama de justiça, algumas vezes, de perfeição implícita no imperfeito, mas com dois pés, por assim dizer, um no tempo e outro na eternidade; um na intenção divina e outro na cotidianidade. Você que lê pode ser apenas um burocrata, tomando conta de si mesmo e dos seus papéis, ou quem sabe alguém que procura o desconhecido negócio sem ter o egoísmo como parte intrínseca de sua natureza. Porque se um dia o tigre do medo chegar perto de você, qual é a necessidade de evitar esse tigre? Deixe-o morder. Deixe que ele pense que está no seu caminho. Deixe que ele pule sobre você e o mate. Isso é altruísmo. O tigre é quem está faminto, com medo de você que é o grande alimento. Quem é você para interromper, se proteger ou avaliar o peso do tigre? Você deve simplesmente se oferecer ao tigre? Porque daí ele se afasta sozinho e você continuará. Isso é que é altruísmo.
                Sim, somos indignados com a usurpação dos políticos, a onda gigantesca das violências institucionais e com as bombas e foguetes que só fazem atrapalhar nossos estados de elevada contemplação, quando a imanência é percebida e a transcendência intuitivamente assimilada. Talvez você nem tenha se perguntado sobre o que acontece no veredicto das urnas e na vontade soberana do povo brasileiro. Talvez não esteja informado de que as eleições para a presidência este ano, pode decapitar os incapazes pelo fracasso e os capazes pela ousadia. Será que o sol brilha no terno preto dos nossos políticos? Outro dia li num jornal que presidenciável é um sujeito multiforme que nunca está onde parece estar. Quando você o toca ele desaparece em meio à multidão. Também, li que tem uma cidade com uma criação de políticos. Alguns chamam de Brasília, uma espécie de arca do império. Dizem que Brasília repercute muito entre os seus grupos de análise. É comum ouvir-se rumores sobre ela, principalmente agora, só porque ela é capaz de atos e decretos que um leigo nem sonharia. De certa forma Brasília existe para se salvar e é motivada agora. Porém, o único problema básico por lá é que os políticos não são capazes de meditar e eles fazem coisas atrás das belas palavras.
                 Assim, eu peço que nossos políticos sejam naturais, íntegros, honestos, tremendamente capazes de maior compreensão pela Nação. É claro que o momento está solicitando revelação e verdade, melhores líderes que evitem qualquer imprevisto por mais quatro anos, que exortem as tensões acumuladas por milhares de promessas inúteis, onde pensávamos que os cinco dedos pudessem cumprir os princípios de Educação, Habitação, Emprego, Saúde e Segurança. Estou falando, é claro, e voltarei a falar se for novamente preciso. Quero dizer, eu penso num Brasil condizente, sem populações subalternas, sem os efeitos do poder colonial. Um Brasil sem gangues, fingimentos ou fraudes, menos burlado ou explorado. Um Brasil amado.

Cristina Guedes

« Voltar