AMOR E SENSUALIDADE

Caiu a noite. A nostalgia, misturada co'uma leve melancolia desceu pela garganta, e como a seiva da uva, deixou minha alma bêbada em suas mãos.

Todos os poetas enalteceram o amor. Uns falaram do amor sublime, do amor encanto, do amor rasgado como véu jogado num canto.

As mulheres falaram da necessidade do sorriso, da carícia, do carinho, d' alma gêmea lhe tocando, como complemento da vida e do milagre do nascimento d'outra vida à ela se amoldando.

Os homens rasgaram suas fantasias e expuseram suas dores, trágicas na perda da amada, fuga de todos os amores. Arrombaram suas musas, freneticamente, no jogo da colocação de suas hastes, membros das seitas dos senhores.

Os homossexuais se apaixonaram pelos seus pares, na beleza da liberação de seus sonhos, produzidos como teias de paixão nos mais coloridos teares.

Rogaram por seus direitos na divisão do patrimônio, como conquista pela parte da vida dividida com parceiro ou parceira, um do outro no natural binômio.

E o amor foi cantado, decantado, marcado a ferro e fogo em versos e prosas.

Os poetas ofertaram suas ilusões de amor bendito, em rimas pobres e ricas, na permuta da felicidade pelos carinhos no corpo da cortesã que vende prazer na paga pelo dinheiro maldito.

No espelho da sublimação em doces afagos, trocaram suas vontades por um simples sorriso, como se o amor fosse para ser encontrado e depois novamente perdido.

Em seu nome foram mortos homens e mulheres. Fortunas foram construídas e destruídas no uso de seu gozo. Virgens foram sacrificadas em nome de um deus da vida e jogadas como objetos de adoração no mais profundo poço.

Matou-se o amor. Internamente, por quem mente. E o amor nunca mais foi o mesmo. Escondeu-se por entre as frestas do pecado, para se livrar do peso da exposição da libido que teima em sorrir para todo homem enamorado.

E o amor emergiu como Fênix, das cinzas da fatalidade para renascer como vida fecundada na terra que afaga todos os amantes, sonhadores ou sofredores, no abraço final que receberá todos nós, senhoras e senhores.

Dou glórias ao amor. O amor lindo, molhado, aquele que pinga depois de jorrado. Aquele que salta da carne em direção à mulher que o recebe e o aquece, nas contrações do tempo para depois reanimá-lo quando fraco em soluços falece.

Dou glórias ao amor. O amor riscado, pela mulher inalterado, aquele que ecoa em gemidos e palavras ousadas, quando se contorce e pede mais do suor de seu amado para banhar-lhe a pele, linda de mulher, perfume da mais fina flor.

Dou glórias ao amor. O amor declarado, abençoado, estampado em perfilados dentes, que brinca de parar no canto da boca e move um sorriso de prazer nos mais ousados lábios, ao capturar a forte essência da olhada matreira que voa feliz a noite inteira!

Dou glórias ao amor. O amor contraído, apertado, sufocante, espremido e que se estica, se empurra e se alonga na intimidade da mulher de olhos semicerrados, santa da vida que irradia felicidade em seu doce semblante.

Dou glórias ao amor. O amor divino do pai pelo filho e pela filha. Por eles pelo pai e pela mãe, que sentem o alívio da porta que se abre na madrugada de tormento quando o som da noite teima em ser amaldiçoado pelo vento.

Dou glórias ao amor. O amor calado, escondido, exposto, cantado em versos e prosas, que na manhã seguinte se renova para ser amado novamente por quem ama de verdade e por quem mente. Razão maior da existência e fazedor de quem lê e de quem escreve. Fazedor... de gente.

Douglas Mondo