Testemunha Ocular

O céu azul e o frio gostoso convidavam-me a um passeio no calçadão da praia. Vesti-me, então, com minha roupa costumeira. Um tanto chamativa, não nego, mas o que fazer se os músculos teimam em aparecer, fazendo jus ao meu esforço do dia a dia? Afinal de contas, levanto peso brabo há doze anos e a coisa não pode ficar impune. Os músculos podem e devem dar o ar da graça!

Preparo-me para atravessar a rua. Ao meu lado, um homem com cabelos brancos aguarda, como eu, o sinal. De repente, pára um suntuoso carro cor prata e dele sai belo homem negro, com terno e gravata, típico personagem de filmes hollywoodianos. Ele arrasta o "cabeça branca" abruptamente para dentro do carro. Coloca-o no banco traseiro.

Tudo observo, atônita. Tremo.

O carro prata sai cantando pneu. Ainda tenho tempo para pegar o caderninho de anotações que sempre trago comigo, para o caso de inspiração súbita. Tento anotar a placa do carro. Logo, vejo o carro que volta em ré... Minhas pernas fraquejam, já me sinto a próxima vítima, manchete de jornais do dia seguinte. Ousara muito ao tentar anotar a placa. Flashes de minha vida chegam, preparando-me para o fim dessa jornada...

Quando o carro chega ao ponto exato de onde havia partido, sinto dedos pegando meu braço e olho, aguardando o tiro fatal, mas o que vejo é um jovem sorridente, com uma câmera na mão que diz: "Calma, minha senhora, esqueci de dizer que isso é apenas uma filmagem!

Belvedere

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