AS RÉPLICAS
 
Sujeitinho pernóstico o Tadeu...
 
Desde que passou a fazer parte do grupo de intelectuais que se reúne semanalmente em uma casa de lanche, para leitura de textos, considera-se o “rei da cocada preta”.
 
Sempre teve mania de decorar trechos de livros e, nas conversas, falar como se fossem seus. Claro que impressiona muita gente. E assim ele vai vivendo e enganando.
 
Há uns quinze dias, o encontrei e, conversando sobre exposições em museus, ele enfaticamente me disse que qualquer obra que viesse do local de origem para ser exposta em outro país seria réplica, nunca a original. Fiquei com cara de boba... Ainda acrescentou: “Me admiro você, Bel, não saber disso! Pense se um avião cai com as esculturas de Rodin, as pinturas de Renoir... imagine, Bel! Tudo é réplica!” Eu ainda retruquei: “Mas, Tadeu, a gente então admira mentiras? Formam-se filas intermináveis pra se ver réplicas?”
 
Custei a aceitar o fato.
 
Ontem, fui a uma exposição em um museu aqui da cidade. Lá encontrei uma museólog amiga. Aproveitei para falar da minha decepção ao saber sobre as réplicas. Ela me olhou com olhos arregalados e perguntou: “O quê, Belvedere? Justamente você, uma pessoa tão inteligente, que lê sobre tudo, me dizer uma blasfêmia dessa? Onde leu isso?”
 
Sem titubear falei: “Tadeu me disse.”
 
Ela começou a rir e disse que em termos de bizarrice ninguém conseguia superar Tadeu... Sempre criando fatos e, o pior, muita gente, como eu, acreditando!

Belvedere

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