O FIM DE TUDO

Todo fim de ano, as Cassandras de plantão, abrem suas caixas mágicas com as suas infindáveis predições. Isso ou aquilo vai acabar, tal ou tal coisa vai chegar  ao fim ou, simplesmente, simplificam a dizer que será o fim do mundo. Ficamos assim a esperar as realizações que, na maioria das vezes, nunca acontecem. Mas não precisamos esperar até o final do ano para ouvirmos certas profecias.  Vez por outra, aparece uma voz afirmando coisas que o futuro vai provar que, de tudo dito, acontece ao contrário. Num outro dia, li de um badalado escritor  internético contemporâneo que, do jeito como as coisas vão, o livro escrito em papel está com seus dias contados. Não sei em que fatos e dados o erudito autodenominado escritor se baseou para afirmar publicamente tal vaticínio.

Lembro-me dos anos 50, quando a televisão chegou para ficar, foi alarmado  aos quatro ventos o fim do rádio, do cinema e do jornal. Meio século depois quem não ouve uma rádio diariamente? Quem não cata notícias e informações  regularmente através de jornais? Que não vai assídua ou esporadicamente ao cinema para assistir um filme? Os três veículos de comunicação ainda estão vivinhos a prestar os seus serviços. Nos anos 70 muitas predições foram feitas com a palavra escrita. Diziam que a forma de se comunicar por escrito chegava  ao fim com o desenvolvimento dos recursos audio-visuais. No entanto, com a chegada da internet, nunca as pessoas se comunicaram tanto através da palavra escrita em todas as línguas que este mundo comporta.

Assim foi com a popularização da fita cassete nos anos 60. Os afoitos profetas  tocaram logo as trombetas alardeando o final do disco, do toca-disco e de muitos  recursos da indústria fonográfica. De fato, o disco 78 RPM mudou de formato, virou o 33 1/2 RPM com quatro músicas de cada lado do disco, depois os famosos LPs e depois os populares CDs da atualidade. Assim a fita cassete se afirmou no mercado e o disco continuou a existir. Mesmo assim, tantos ainda preferem continuar com os seus antigos toca-discos e vitrolas escutando os saudosos boleros de seus vinis.

Eu, particularmente, duvido do desaparecimento do livro na sua forma atual. Enquanto existir leitores, asseguro que  eles querem palpar um volume para  manuseá-lo, folheá-lo, ler com carinho o que alguém, algum dia, escreveu e outros, com dedicação, imprimiram. É bom sentir o cheiro do papel e da tinta, dá mais sabor à leitura. Destarte, fico cada vez mais cético com as profecias de certos magos de apartamento. De uma coisa eu tenho absoluta certeza: não se faz mais profetas como antigamente.

Fernando Tanajura Menezes

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