De quanto espaço você precisa?

Quandos estudamos variadas culturas, um aspecto importante é o modo como os habitantes de um lugar organizam as casas. Iglus, ocas, cabanas, casas de palha, casas de alvenaria, casas pré-fabricadas, entre outros tipos, parecem dizer algo sobre o funcionamento das sociedades, como o que pensam os habitantes sobre beleza, conforto e funcionalidade. A distribuição habitacional também pode dizer que parte da população é pobre e não tem alternativa a não ser morar em casas amontoadas em favelas ou nos sertões sem emprego, alimentação, educação e saúde.

Na internet circula um texto que fala sobre a população do planeta e seus mais de seis bilhões de habitantes. Se a população fosse reduzida a cem pessoas, mantendo as proporções de todos os povos que existem no mundo, por exemplo, cinqüenta e sete seriam asiáticos e oitenta viveriam em casas sem condições higiênicas. Mas quantas dessas casas seriam tão minúsculas para abrigar uma família de sete pessoas e um cachorro?

Há revistas especializadas em mostrar arquiteturas de casas modernas, há revistas que mostram as mansões luxuosas dos artistas. Como os artistas que fazem pose e exibem seus milhares de metros quadrados, lá estava Helenita na sua casinha. Não estava em nenhuma dessas revistas, mas no jornal O Estado de São Paulo, pelo fato de ser “estranha” e virar ponto turístico em uma cidade com doze mil habitantes na Bahia.

A casa de Helenita tem uma cozinha, duas salas, três suítes e varanda, tudo “normal”, se não tivesse dois metros de largura e ainda servir de moradia para ela, três filhos, marido, irmã, mãe e cachorro. Helenita ainda fala sobre os planos para uma cobertura, já que pediu ao pedreiro que fizesse uma boa fundação, assim como aquela que o terceiro porquinho fez e o lobo mau não derrubou. A casa não lembra nem de longe as casas desajeitadas dos outros porquinhos, a casa de Helenita é arrumada, limpa, caprichada e confortável, pelo menos para quem não sofre de claustrofobia.

Casa de Helenita, branca, à direita

“Eu quis aproveitar tudinho o que tinha de terreno”, disse Helenita, mostrando que seria ótima conselheira sobre a reforma agrária ou, quem sabe, a reorganização do espaço mundial. Deixaria cada um com seu cantinho de terra, dividiria cada pedaço do Brasil sem deixar ninguém de fora, e certamente deixaria espaço sobrando para ser utilizado de forma útil, pois Helenita ainda tem uma primeira casa que rende aluguel para a família. Mas a casinha de dois metros de largura ela diz que não troca nem faz negócio.

Faz anos que muitos grupos parecem preocupados com o modo de utilização do espaço urbano. Muitos ainda se empenham em estratégias para conservar o ambiente e ao mesmo tempo transformar os espaços em locais de habitação. Certamente a organização interna das cidades influencia espaços urbanos e agrários.

Mas quem de nós aceitaria trocar de casa se houvesse um planejamento urbano que deixasse o mínimo de espaço para cada um? Será que precisamos de todo o espaço habitacional que usamos? Será que trocaríamos nosso espaço por uma habitação planejada e menor, para que todos os habitantes do mundo pudessem ter um local decente para morar?

Ainda há muitas casas pobres e com condições precárias para se viver. O lobo mau das enchentes, desmoronamentos e falta de saneamento está sempre soprando sobre elas. Se fosse um porquinho, Helenita nunca teria sua casa derrubada pelo Lobo Mau. E viveria feliz para sempre

Solange Firmino

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